Não ficção/ História/ Segunda Guerra Mundial/ Resistência ao nazismo
Título Original: Die Weiße Rose
Tradutores: Anna Carolina Schäfer, Eline de Assis Alves, Eraldo Souza dos Santos, Flora Azevedo Bonatto, Janaína Lopes Salgado, Luana de Julio de Camargo, Renata Benassi e Yasmin Cobaiachi Utida
Editora 34
Edição de: 2014
Páginas: 272
Sinopse: O que pode fazer um punhado de jovens, munidos de um ideal de liberdade, um elevado senso ético e um mimeógrafo clandestino, diante do terror brutal de um Estado totalitário? Este livro conta a trajetória impactante e profundamente comovente da Rosa Branca, um grupo de estudantes da Universidade de Munique que, por meio da redação e distribuição de panfletos, teve a coragem de contestar o regime nazista.
Combinando memórias familiares com a transcrição dos folhetos originais e relatos de testemunhas da época, a autora narra a tomada de consciência de seus irmãos Hans e Sophie Scholl, bem como dos outros membros do grupo, que ousaram afirmar sua resistência contra o nacional-socialismo, até serem capturados e sumariamente condenados à morte em 1943.
Traduzido para vários idiomas, e com mais de um milhão de cópias vendidas na Alemanha, A Rosa Branca foi o ponto de partida para o filme homônimo de Michael Verhoeven (1982) e também Uma mulher contra Hitler, de Marc Rothemund (2005). Além de documentos inéditos relacionados à história da Rosa Branca, a presente edição inclui uma apresentação redigida pelas organizadoras Juliana P. Perez e Tinka Reichmann, da Universidade de São Paulo, e um posfácio do historiador alemão Rainer Hudemann escrito especialmente para o leitor brasileiro.
Comecei a ler este livro no dia 28 de julho do presente ano. Eu assisti um vídeo no canal literário Estante Alada no qual a Jaqueline mencionava o livro. Bastou isso para que ficasse louca atrás dele, mesmo temendo o preço, vez que foi publicado pela editora 34, cujos livros geralmente são caros.
Tentei esperar que baixasse de preço, mas fiquei com tanto medo de aparecer de repente como esgotado, que acabei comprando e já iniciando a leitura logo em seguida. Mas o que me levou a concluir a leitura somente na terça-feira passada, dia 17 de dezembro? A grande dor que este livro provocou dentro de mim.
Desde o primeiro dia de leitura eu chorei. Cada virar de página era um tormento, pois conseguia visualizar aqueles jovens na minha cabeça, sua coragem, sua fé, sua luta contra um regime que sabiam que provavelmente não conseguiriam vencer... e o final terrível que todos eles tiveram.
Foi por isso que não tive forças para ler o livro de uma vez. Precisei de tempo. Necessitei "respirar" e intercalar a leitura com coisas diferentes, para poder aliviar meu coração. E quando finalmente terminei a leitura na terça-feira passada, não consegui vir aqui fazer a resenha. Não era capaz. Ainda não me sinto capaz.
Talvez eu não consiga escrever uma resenha que te faça sair correndo atrás deste livro, que te faça desejar lê-lo e conhecer a história dos cinco estudantes e um professor que formaram o núcleo da Rosa Branca, um grupo de resistência ao nazismo, cujos integrantes foram julgados e condenados à morte pelo Tribunal do Povo. Sentenças que foram executadas. Seus crimes? Produzir e distribuir panfletos (Sim! Panfletos!!! Apenas isso!) que denunciavam as mentiras e crueldades do nazismo.
Talvez eu não seja capaz de falar de tudo o que me marcou, do quanto este livro se tornou especial para mim. Da sua riqueza histórica... e das lições que aprendi com a força desses jovens, que tanto tinham a perder, mas que mesmo assim lutaram até as últimas consequências. Talvez eu não consiga falar deles. Mas eu vou tentar. Peço perdão se a minha emoção me impedir de ser coerente, de fazer uma resenha digna do livro. Mas darei o meu máximo.
Cheguei a pensar em não resenhar o livro. Hoje já é sexta-feira e até alguns minutos atrás eu ainda não conseguia vir aqui. Mas resolvi que não custava nada tentar. Porque eles merecem que sua história seja mais e mais conhecida. E mesmo que a minha resenha contribua apenas um pouquinho, já é alguma coisa. Pelo menos, estou fazendo a minha parte para que outras pessoas, que talvez nunca tenham ouvido falar da Rosa Branca, saibam quem seus integrantes foram e pelo que morreram.
Todos os trechos que mencionei acima fazem parte da "Apresentação à edição brasileira", escrita por Juliana P. Perez e Tinka Reichmann, que é importantíssima para quem está tendo um primeiro contato com a história da Rosa Branca. Aqui tomamos conhecimento de fatos marcantes, que já nos emocionam antes mesmo de "entrarmos no livro", além de sabermos um pouco de como foi o processo de tradução (vocês podem ver logo no início do post que o livro contou com vários tradutores) e preparação para publicação. De início, era um projeto didático, um trabalho que os estudantes e professores faziam na Universidade de São Paulo. Eles passaram anos trabalhando nisso, até que resolveram e conseguiram transformá-lo num projeto editorial. E sou muito grata a todos eles, pois foi através do projeto deles que este livro foi publicado pela primeira vez no Brasil, no ano de 2013.
Além dos textos sobre a Rosa Branca, escritos por Inge Scholl, irmã de Hans e Sophie Scholl (dois dos principais membros do grupo, ambos executados em fevereiro de 1943), como livro de memórias e uma homenagem aos seus amados irmãos, temos acesso ainda aos textos completos dos seis panfletos que chegaram a ser distribuídos pelo grupo (bem como um rascunho do sétimo panfleto, que não chegou a ser distribuído), as sentenças do Tribunal do Povo (que condenaram os seis sem lhes dar uma real chance de defesa), os relatos e testemunhos (desde amigos e outros integrantes do grupo, bem como até mesmo de pessoas responsáveis pelos interrogatórios, e o capelão que esteve com Hans e Sophie em seus últimos momentos de vida), as reações e manifestações de apoio e mais. É um livro muito completo.
Hans e Sophie, assim como os outros estudantes que vieram a formar parte da Rosa Branca, eram pouco mais que crianças quando o nazismo começou a se instaurar em sua querida Alemanha. De início, se deixaram deslumbrar pelas mentiras e manipulações de Hitler. Chegaram a fazer parte da Juventude Hitlerista. Mas o passar do tempo e as coisas que começaram a ver e perceber abriram seus olhos como sabiam que tinham a obrigação, como seres humanos, de fazer com o resto da população. Se um dia também estiveram cegos e foram capazes de livrar suas mentes da influência de um monstro, talvez fossem capazes de abrir os olhos dos outros. Custava tudo arriscar. Absolutamente tudo. Poderia, inclusive, custar suas próprias vidas. Mas estavam dispostos a pagar o preço que fosse. Porque não poderiam carregar na consciência a culpa por ficarem em silêncio enquanto tanto sangue era derramado. Era melhor morrer lutando contra aquelas atrocidades do que viver sem ter feito nada.
Os idealizadores da Rosa Branca foram Hans Scholl (que tinha 25 anos quando foi executado) e Alexander Schmorell (que também tinha 25 anos quando foi executado). Sophie (que tinha 22 anos quando foi executada) veio a fazer parte do grupo um pouco depois, mas estava profundamente envolvida em suas atividades quando foi presa. Os membros do grupo não se conheciam desde sempre, um foi entrando na vida do outro através de seus pensamentos parecidos, de seu desejo de viverem num lugar melhor, de lutarem por um país onde não reinasse o medo e a violência.
A Rosa Branca não foi o único grupo de resistência ao nazismo, existiram outros, vários, uns menores e outros maiores, mas o que muito diferenciava a Rosa Branca dos demais era a maneira como eles promoviam a resistência: através das palavras. Embora tenham pichado palavras como "Liberdade" e "Abaixo Hitler" nas paredes da Universidade de Munique, onde estudavam, aquilo em que trabalhavam principalmente era na produção e distribuição de panfletos impactantes, que chamavam a população a se unir a eles, que sacudiam as pessoas para que acordassem. Eram textos impressionantes, diretos e cheios de inteligência, que realmente mexem com algo dentro de nós, mesmo nos dias atuais.
Embora o grupo tenha crescido com o tempo e tivesse conexões em diversos lugares, inclusive com outros grupos de resistência, eles não conseguiram conscientizar pessoas o suficiente para se unirem abertamente à sua causa. Pelo menos, não em vida. Hans, Sophie, Chris, Alexander, Willi e o professor Huber, eram os principais membros, o núcleo do grupo, e faziam todo o possível para manter em segredo outros nomes, para em caso de queda não levarem muitas pessoas com eles. Foram esses seis os que pegaram as piores penas: a condenação à morte. Por dizerem aquilo que muitos alemães tinham medo de dizer. Eles foram condenados por lutarem por direitos humanos, foram condenados por suas palavras, por sua fé, por não terem virado o rosto para o outro lado enquanto milhares e milhares de mortes aconteciam. Enquanto seres humanos eram tratados como objetos e morriam em campos de concentração. Por não desejarem carregar tamanho peso em sua consciência, eles foram condenados à morte e executados sem real chance de defesa.
A Rosa Branca já estava na mira do regime há algum tempo e mais cedo ou mais tarde os membros seriam pegos. Mas tudo aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1943. Hans e Sophie decidiram espalhar panfletos em plena universidade, enquanto os alunos ainda estavam em sala e os corredores vazios. Todavia, uma pessoa os viu e denunciou.
Num "julgamento" que não passou de um espetáculo, Hans, Sophie e Chris foram condenados à morte, no dia 22 de fevereiro de 1943 e executados no mesmo dia. Sim, foram presos no dia 18 e condenados e executados no dia 22. O nazismo queria mandar um recado e mandou. Era uma forma de intimidar a população. Poucos meses depois, os outros três criadores da Rosa Branca (Alexander, Willi e o professor Huber) tiveram o mesmo destino.
É doloroso demais acompanhar os acontecimentos através das palavras da irmã do Hans e da Sophie, bem como dos relatos e testemunhos de pessoas que os conheceram, que lutaram com eles e até mesmo daqueles que os interrogaram. Eu chorei tanto, mas tanto que achava que não teria mais lágrimas. Este livro acabou comigo. De muitas formas. Me sinto péssima. Porque não é ficção, gente. Todas essas pessoas existiram. É a história da luta delas que é contada aqui. Morreram por lutar por justiça, por liberdade, por humanidade. Morreram porque não aceitaram fazer parte de um regime monstruoso. O Chris tinha três filhos, um deles era só um bebezinho. A Sophie e o Hans fizeram tudo para salvá-lo da morte, pois os filhos precisavam dele. Mas não conseguiram.
E falando nesses dois irmãos... Dói muito saber o quanto lutaram um pela vida do outro. Quando foram presos, eles tentaram jogar toda culpa para si mesmos. Enquanto o Hans dizia que tudo tinha sido feito por ele, a Sophie fazia o mesmo, na tentativa de salvar o outro. Isso impressionou inclusive as pessoas que os interrogaram, a união deles comovia a todos. E quando a Sophie teve a chance, mesmo que mínima, de escapar da pena de morte, ela não aceitou. Preferia morrer com o irmão do que traí-lo para se salvar. Eu a admirei demais. Suas palavras, seus registros no diário, sua fé tão bela em Deus, na justiça divina, no amor de Jesus... Era uma fé muito linda. E tenho certeza que ela e todos os outros que lutaram ao seu lado estão descansando nos braços do Pai.
Eu não consigo falar mais. Lembrar de tudo o que li traz de volta toda a dor que este livro provocou. Eu gostaria de falar muito mais. Sobretudo dos panfletos, que são incríveis, gente! Leiam os panfletos, leiam o livro inteiro, inclusive as sentenças! É impossível não se emocionar. É impossível não sentir uma revolta enorme com toda aquela injustiça, com o assassinato brutal desses jovens. Um assassinato autorizado pela justiça do país, autorizado e respaldado pelas mentiras e atrocidades do nazismo, de Hitler, um monstro vindo do inferno.
E termino repetindo um trecho que coloquei acima. Lembrem-se sempre que coisas assim podem se repetir. Que sirva de reflexão!
"Mas a palavra história remete ao passado - o que é perigoso, pois leva a crer que os acontecimentos ficaram para trás e não se repetirão nunca mais."
Tentei esperar que baixasse de preço, mas fiquei com tanto medo de aparecer de repente como esgotado, que acabei comprando e já iniciando a leitura logo em seguida. Mas o que me levou a concluir a leitura somente na terça-feira passada, dia 17 de dezembro? A grande dor que este livro provocou dentro de mim.
"Seis pessoas, seis panfletos mimeografados, uns poucos milhares de leitores, a busca por liberdade e respeito. Nada mais perigoso para um regime ditatorial."
Desde o primeiro dia de leitura eu chorei. Cada virar de página era um tormento, pois conseguia visualizar aqueles jovens na minha cabeça, sua coragem, sua fé, sua luta contra um regime que sabiam que provavelmente não conseguiriam vencer... e o final terrível que todos eles tiveram.
Foi por isso que não tive forças para ler o livro de uma vez. Precisei de tempo. Necessitei "respirar" e intercalar a leitura com coisas diferentes, para poder aliviar meu coração. E quando finalmente terminei a leitura na terça-feira passada, não consegui vir aqui fazer a resenha. Não era capaz. Ainda não me sinto capaz.
"Certamente o que chama a atenção num primeiro momento é a desproporção entre os meios utilizados pelo grupo - seis panfletos mimeografados - e a violentíssima resposta do regime nazista."
Talvez eu não consiga escrever uma resenha que te faça sair correndo atrás deste livro, que te faça desejar lê-lo e conhecer a história dos cinco estudantes e um professor que formaram o núcleo da Rosa Branca, um grupo de resistência ao nazismo, cujos integrantes foram julgados e condenados à morte pelo Tribunal do Povo. Sentenças que foram executadas. Seus crimes? Produzir e distribuir panfletos (Sim! Panfletos!!! Apenas isso!) que denunciavam as mentiras e crueldades do nazismo.
Talvez eu não seja capaz de falar de tudo o que me marcou, do quanto este livro se tornou especial para mim. Da sua riqueza histórica... e das lições que aprendi com a força desses jovens, que tanto tinham a perder, mas que mesmo assim lutaram até as últimas consequências. Talvez eu não consiga falar deles. Mas eu vou tentar. Peço perdão se a minha emoção me impedir de ser coerente, de fazer uma resenha digna do livro. Mas darei o meu máximo.
Cheguei a pensar em não resenhar o livro. Hoje já é sexta-feira e até alguns minutos atrás eu ainda não conseguia vir aqui. Mas resolvi que não custava nada tentar. Porque eles merecem que sua história seja mais e mais conhecida. E mesmo que a minha resenha contribua apenas um pouquinho, já é alguma coisa. Pelo menos, estou fazendo a minha parte para que outras pessoas, que talvez nunca tenham ouvido falar da Rosa Branca, saibam quem seus integrantes foram e pelo que morreram.
'Em um mundo tantas vezes ainda tão obscuro e dominado pela violência, a inabalável paixão dos integrantes da Rosa Branca pela liberdade de consciência e pela liberdade civil de cada pessoa é um testemunho luminoso e um imenso alento."
Todos os trechos que mencionei acima fazem parte da "Apresentação à edição brasileira", escrita por Juliana P. Perez e Tinka Reichmann, que é importantíssima para quem está tendo um primeiro contato com a história da Rosa Branca. Aqui tomamos conhecimento de fatos marcantes, que já nos emocionam antes mesmo de "entrarmos no livro", além de sabermos um pouco de como foi o processo de tradução (vocês podem ver logo no início do post que o livro contou com vários tradutores) e preparação para publicação. De início, era um projeto didático, um trabalho que os estudantes e professores faziam na Universidade de São Paulo. Eles passaram anos trabalhando nisso, até que resolveram e conseguiram transformá-lo num projeto editorial. E sou muito grata a todos eles, pois foi através do projeto deles que este livro foi publicado pela primeira vez no Brasil, no ano de 2013.
Além dos textos sobre a Rosa Branca, escritos por Inge Scholl, irmã de Hans e Sophie Scholl (dois dos principais membros do grupo, ambos executados em fevereiro de 1943), como livro de memórias e uma homenagem aos seus amados irmãos, temos acesso ainda aos textos completos dos seis panfletos que chegaram a ser distribuídos pelo grupo (bem como um rascunho do sétimo panfleto, que não chegou a ser distribuído), as sentenças do Tribunal do Povo (que condenaram os seis sem lhes dar uma real chance de defesa), os relatos e testemunhos (desde amigos e outros integrantes do grupo, bem como até mesmo de pessoas responsáveis pelos interrogatórios, e o capelão que esteve com Hans e Sophie em seus últimos momentos de vida), as reações e manifestações de apoio e mais. É um livro muito completo.
"Mas a palavra história remete ao passado - o que é perigoso, pois leva a crer que os acontecimentos ficaram para trás e não se repetirão nunca mais."
Hans e Sophie, assim como os outros estudantes que vieram a formar parte da Rosa Branca, eram pouco mais que crianças quando o nazismo começou a se instaurar em sua querida Alemanha. De início, se deixaram deslumbrar pelas mentiras e manipulações de Hitler. Chegaram a fazer parte da Juventude Hitlerista. Mas o passar do tempo e as coisas que começaram a ver e perceber abriram seus olhos como sabiam que tinham a obrigação, como seres humanos, de fazer com o resto da população. Se um dia também estiveram cegos e foram capazes de livrar suas mentes da influência de um monstro, talvez fossem capazes de abrir os olhos dos outros. Custava tudo arriscar. Absolutamente tudo. Poderia, inclusive, custar suas próprias vidas. Mas estavam dispostos a pagar o preço que fosse. Porque não poderiam carregar na consciência a culpa por ficarem em silêncio enquanto tanto sangue era derramado. Era melhor morrer lutando contra aquelas atrocidades do que viver sem ter feito nada.
"O que essas pessoas haviam feito? Em que consistiram seus crimes? [...] Eles não se sacrificaram por nenhuma ideia extraordinária, não perseguiram grandes objetivos; o que queriam era que pessoas como eu e você pudessem viver em um mundo humano. E talvez esteja aí sua grandeza: em terem lutado e arriscado suas vidas por algo tão simples, em terem tido forças para defender o direito mais básico como o sacrifício último."
Os idealizadores da Rosa Branca foram Hans Scholl (que tinha 25 anos quando foi executado) e Alexander Schmorell (que também tinha 25 anos quando foi executado). Sophie (que tinha 22 anos quando foi executada) veio a fazer parte do grupo um pouco depois, mas estava profundamente envolvida em suas atividades quando foi presa. Os membros do grupo não se conheciam desde sempre, um foi entrando na vida do outro através de seus pensamentos parecidos, de seu desejo de viverem num lugar melhor, de lutarem por um país onde não reinasse o medo e a violência.
"Não há nada mais indigno para um povo civilizado do que se deixar 'governar' sem resistência por uma corja de déspotas irresponsáveis, movida por instintos obscuros."
A Rosa Branca não foi o único grupo de resistência ao nazismo, existiram outros, vários, uns menores e outros maiores, mas o que muito diferenciava a Rosa Branca dos demais era a maneira como eles promoviam a resistência: através das palavras. Embora tenham pichado palavras como "Liberdade" e "Abaixo Hitler" nas paredes da Universidade de Munique, onde estudavam, aquilo em que trabalhavam principalmente era na produção e distribuição de panfletos impactantes, que chamavam a população a se unir a eles, que sacudiam as pessoas para que acordassem. Eram textos impressionantes, diretos e cheios de inteligência, que realmente mexem com algo dentro de nós, mesmo nos dias atuais.
"Os jornais nem sequer mencionavam o fato de serem pronunciadas não apenas uma, mas dezenas de sentenças de morte diariamente."
Embora o grupo tenha crescido com o tempo e tivesse conexões em diversos lugares, inclusive com outros grupos de resistência, eles não conseguiram conscientizar pessoas o suficiente para se unirem abertamente à sua causa. Pelo menos, não em vida. Hans, Sophie, Chris, Alexander, Willi e o professor Huber, eram os principais membros, o núcleo do grupo, e faziam todo o possível para manter em segredo outros nomes, para em caso de queda não levarem muitas pessoas com eles. Foram esses seis os que pegaram as piores penas: a condenação à morte. Por dizerem aquilo que muitos alemães tinham medo de dizer. Eles foram condenados por lutarem por direitos humanos, foram condenados por suas palavras, por sua fé, por não terem virado o rosto para o outro lado enquanto milhares e milhares de mortes aconteciam. Enquanto seres humanos eram tratados como objetos e morriam em campos de concentração. Por não desejarem carregar tamanho peso em sua consciência, eles foram condenados à morte e executados sem real chance de defesa.
A Rosa Branca já estava na mira do regime há algum tempo e mais cedo ou mais tarde os membros seriam pegos. Mas tudo aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1943. Hans e Sophie decidiram espalhar panfletos em plena universidade, enquanto os alunos ainda estavam em sala e os corredores vazios. Todavia, uma pessoa os viu e denunciou.
"Mas dois olhos os viram. Dois olhos que haviam se desligado do coração de seu dono e se tornado lentes automáticas da ditadura. Eram os olhos do zelador. Todas as portas da universidade foram imediatamente fechadas. Com isso, o destino de ambos foi selado."
Num "julgamento" que não passou de um espetáculo, Hans, Sophie e Chris foram condenados à morte, no dia 22 de fevereiro de 1943 e executados no mesmo dia. Sim, foram presos no dia 18 e condenados e executados no dia 22. O nazismo queria mandar um recado e mandou. Era uma forma de intimidar a população. Poucos meses depois, os outros três criadores da Rosa Branca (Alexander, Willi e o professor Huber) tiveram o mesmo destino.
É doloroso demais acompanhar os acontecimentos através das palavras da irmã do Hans e da Sophie, bem como dos relatos e testemunhos de pessoas que os conheceram, que lutaram com eles e até mesmo daqueles que os interrogaram. Eu chorei tanto, mas tanto que achava que não teria mais lágrimas. Este livro acabou comigo. De muitas formas. Me sinto péssima. Porque não é ficção, gente. Todas essas pessoas existiram. É a história da luta delas que é contada aqui. Morreram por lutar por justiça, por liberdade, por humanidade. Morreram porque não aceitaram fazer parte de um regime monstruoso. O Chris tinha três filhos, um deles era só um bebezinho. A Sophie e o Hans fizeram tudo para salvá-lo da morte, pois os filhos precisavam dele. Mas não conseguiram.
E falando nesses dois irmãos... Dói muito saber o quanto lutaram um pela vida do outro. Quando foram presos, eles tentaram jogar toda culpa para si mesmos. Enquanto o Hans dizia que tudo tinha sido feito por ele, a Sophie fazia o mesmo, na tentativa de salvar o outro. Isso impressionou inclusive as pessoas que os interrogaram, a união deles comovia a todos. E quando a Sophie teve a chance, mesmo que mínima, de escapar da pena de morte, ela não aceitou. Preferia morrer com o irmão do que traí-lo para se salvar. Eu a admirei demais. Suas palavras, seus registros no diário, sua fé tão bela em Deus, na justiça divina, no amor de Jesus... Era uma fé muito linda. E tenho certeza que ela e todos os outros que lutaram ao seu lado estão descansando nos braços do Pai.
"Não esqueçam que cada nação merece o governo que ela tolera!"
Eu não consigo falar mais. Lembrar de tudo o que li traz de volta toda a dor que este livro provocou. Eu gostaria de falar muito mais. Sobretudo dos panfletos, que são incríveis, gente! Leiam os panfletos, leiam o livro inteiro, inclusive as sentenças! É impossível não se emocionar. É impossível não sentir uma revolta enorme com toda aquela injustiça, com o assassinato brutal desses jovens. Um assassinato autorizado pela justiça do país, autorizado e respaldado pelas mentiras e atrocidades do nazismo, de Hitler, um monstro vindo do inferno.
E termino repetindo um trecho que coloquei acima. Lembrem-se sempre que coisas assim podem se repetir. Que sirva de reflexão!
"Mas a palavra história remete ao passado - o que é perigoso, pois leva a crer que os acontecimentos ficaram para trás e não se repetirão nunca mais."
Olá...
ResponderExcluirAmei, amei, amei a sua resenha! Deu pra sentir perfeitamente todo o seu amor pelo livro!
Lembro que você comentava muito e lia trechos dessa obra lá no grupo do whatsapp e eu já ficava fascinada, agora com sua resenha já quero sair correndo e comprar o livro!
Dica anotada.
Bjo
Oi!
ResponderExcluirTudo bem?
O livro realmente tem uma temática que me conquista e o fato dele ter despertado tantas emoções em você me deixam compelida a querer ler e saber mais, principalmente sobre os panfletos. Obrigada pela dica!
Beijos!
Oi, Luna, obrigada por me apresentar a esse livro. Realmente, uma obra bem forte e emocionante, mas como você bem pontuou, é super importante lembrar de atrocidades cometidas no passado para estarmos atentos caso elas tentem se repetir.
ResponderExcluirNOSSA, NOSSA, NOSSA! Fiquei lendo e imaginando toda a história, meu Deus. Livros e filmes com histórias assim reais ou não, me deixam em frangalhos. Não é um livro que eu leria no momento, por motivos pessoais, mas com certeza não o deixarei passar em outro momento. Dica anotada.Ótima resenha.
ResponderExcluirNão conhecia o livro e já fiquei curiosa com o enredo. Interessante você se permitir "repisrar" durante a leitura para absorver tudo o que o livro tinha para te oferecer. Anotei a dica aqui
ResponderExcluirBeijo
Olá!
ResponderExcluirEu não conhecia esse livro, mas a forma como você descreveu, com uma riqueza de detalhes impressionante, me deixou totalmente curiosa! Já corri e adicionei esse livro na minha wishlist! Gosto de livros que abordam sobre esse tema. Apesar de triste, é necessário.
Aproveitei para seguir seu blog e acompanhar mais resenhas assim.
Beijos,
Blog PS Amo Leitura
Olá!
ResponderExcluirEsse livro eu não conhecia, mas me interesso muito por livros que retratam essa época sangrenta, acredito que tudo é aprendizado, aprender para não repetir. Achei sua resenha bem detalhada, mas sem tirar o brilho de quem quer realizar a leitura, que por sinal vai entrar na minha lista. Obrigada pela dica.
Beijos
Olá, tudo bem? Eu evito muito ler livros ambientados nesta época, questão sentimental mesmo hahaha. Mas achei bem interessante e suas considerações estão excelentes!
ResponderExcluirUm beijo.
Que livro perfeito! É a minha cara esse tipo de leitura. Fiquei muito curioso para saber dessa história na íntegra, anotei o nome e será minha próxima aquisição. Excelente dica!!!
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