5 de agosto de 2019

Medeia - Eurípides

Tempo de leitura:
Literatura Grega
Livro: O Melhor do Teatro Grego
Editora: Zahar
Edição de: 2013
Páginas: 392
Onde comprar: Amazon

*Lido no Kindle Unlimited

Sinopse: Ideal para quem deseja se familiarizar com o teatro clássico, esse livro reúne os seus autores mais importantes - Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes -, representados por quatro peças que estão na base da cultura ocidental: as tragédias Prometeu acorrentado, Édipo rei e Medeia e a comédia As nuvens. A tradução, diretamente do grego, foi feita pelo renomado Mário da Gama Kury. 
Esse volume da coleção Clássicos Zahar oferece ainda um vasto material de apoio, que facilitará a leitura mesmo daqueles que nunca tiveram contato com as grandes peças teatrais, como textos introdutórios, glossário, resumo da ação em cada peça, perfis dos personagens e mais de 190 notas. A versão impressa apresenta ainda capa dura e acabamento de luxo.




Presente no livro O Melhor do Teatro Grego, da editora Zahar, Medeia é uma famosa tragédia grega que eu sempre tive medo de ler.rs Por não ser fã de histórias trágicas só li até agora as duas super conhecidas peças de Sófocles (Édipo Rei e Antígona) e Hamlet, de Shakespeare, que é uma tragédia inglesa. 

Era para eu ter lido Medeia para o tema de maio de um dos desafios dos quais estou participando. Todavia, o medo acabou falando mais alto e enrolei o quanto pude até finalmente parar para ler o livro. E estava certa em fugir da história. Afinal de contas, queridos, é uma tragédia. Assim sendo, no final sabemos que só tem desgraça. 

"Ela é terrível, na verdade, e não espere a palma da vitória quem atrai seu ódio." 

Esta é uma história de ódio e vingança. Temos como protagonista e ao mesmo tempo antagonista, Medeia, a mulher que traiu o próprio pai e sua pátria, bem como aqueles que a tinham como amiga, só para satisfazer as vontades de Jáson, o homem a quem ela amava. Por este amor destrutivo, ela foi capaz das mais terríveis traições, causando ruína e morte por onde passou...

"Para onde irão meus passos hoje? Para o lar paterno, que já traí, como traí a minha pátria, para seguir-te? Ou para as filhas do rei Pélias? (Que bela recepção me proporcionariam as infelizes em seu lar, a mim, que um dia causei a morte de seu pai!) Eis a verdade: hoje sou inimiga de minha família e só para agradar-te hostilizei amigos que deveria ser a última a ferir."

Claro que uma relação construída em cima da desgraça dos outros não poderia dar certo. E não demora muito para que Jáson perceba que quer muito mais do que uma vida ao lado de Medeia e dos filhos nascidos desta união. Ambicioso, ele volta seus olhos para a filha do rei Creonte, que resolve entregar sua preciosa filha a ele, mesmo que Jáson já fosse casado com Medeia. Sem pensar duas vezes, ele abandona seu lar e seus filhos e começa os preparativos para seu grande casamento com a princesa de Corinto. Acreditando estar no controle da situação e que Medeia não teria outra alternativa senão aceitar as decisões daqueles que eram mais fortes que ela (segundo as próprias palavras dele), ele nem se dispõe a lembrar o que aquela mulher já tinha sido capaz de fazer por ele. Era tão tonto a ponto de imaginar que ela simplesmente seria submissa quando no passado já tinha matado por ele? Acreditava mesmo que o amor não se transformaria em ódio? 


"Moras agora numa terra estranha, tomam-te o leito, levam-te o marido (ah! Infeliz!) e expulsam-te vilmente para o exílio."

Como se não bastasse a dor e a humilhação de se ver abandonada pelo marido e saber que todos comentavam a sua desgraça, ainda recebeu a visita pessoal do rei Creonte, que deixou claro que ela não era mais bem-vinda em Corinto. Que deveria partir imediatamente com seus filhos. Isso porque com o casamento iminente entre sua preciosa filha e Jáson, o rei temia que Medeia pudesse tentar alguma coisa. Assim, seu ódio e desejo de vingança apenas aumentam, pois não tinha para onde ir, vez que traíra a própria pátria pelo homem que agora a abandonava. Todavia, astuta, Medeia convence o rei a deixá-la ficar por mais um dia. Era todo o tempo que ela precisava para colocar em prática os seus planos... Porque de uma coisa ela tinha certeza: aquele casamento não aconteceria. Ela mataria a princesa e faria Jáson perder tudo o que tinha e ainda o que desejava possuir...

"Os filhos lhe causam horror e já não sente satisfação ao vê-los."

E é aí, quando Creonte dá a Medeia mais um dia, que a história toma aquele rumo que tornou a tragédia tão conhecida: porque para se vingar de Jáson, Medeia não planeja apenas acabar com a vida da princesa e com os sonhos dele, ela também pretende deixá-lo sem descendência, acabando com a vida de seus próprios filhos. 

"Como, volvendo o olhar para teus filhos, serás, sem lágrimas, sua assassina?"

Dividida entre o ódio que a consome e o amor que sente pelos filhos, Medeia recua várias vezes em sua decisão. Transtornada, se pergunta como vai matar aqueles que carregou em seu ventre, por quem sofrera tantas vezes, por quem se preocupou, quem amou e protegeu. Como terá coragem de acabar com a vida daqueles a quem tanto ama. No decorrer da história, várias pessoas tentam convencê-la a não fazer algo tão monstruoso, pois o sofrimento que causaria a Jáson não seria nada perto da dor que ela própria sentiria, para sempre carregando a culpa de um pecado tão grande, para sempre arruinada. 

"Será que apenas para amargurar o pai vou desgraçá-los, duplicando a minha dor?"

Medeia é uma história marcante, que atinge algo dentro de nós. Uma história que é impossível esquecer ou superar. O autor desta peça se preocupou em expor em sua obra não só a questão de pais que abandonam seus lares e filhos para construir outras famílias, mas também a situação terrível de submissão e desesperança de mulheres que eram obrigadas a suportar as decisões dos homens numa sociedade machista. Em muitas cenas, Medeia e o Coro jogam na cara do leitor essa realidade horrível, mostrando como era desesperadora a vida de muitas mulheres. E é por isso que os personagens da história, o Coro (formado por mulheres coríntias) e o Corifeu tinham simpatia por Medeia, se compadeciam da situação dela. Por mais perversa que ela fosse em sua vingança, o tempo todo ela teve apoio daqueles que compreendiam o que a levara até aquele ponto. Ninguém concordava com a loucura e maldade de querer se vingar utilizando os próprios filhos, mas de resto eles entendiam que Medeia tinha sido traída das mais diversas formas por Jáson e que seu ódio por ele era justificável. 

"Das criaturas todas que têm vida e pensam, somos nós, as mulheres, as mais sofredoras."

Sobrinha de Circe, a terrível feiticeira da clássica Odisseia (de Homero), e neta de Hélio, o Sol, Medeia é uma mulher tanto perversa quanto inteligente, possuindo todo o conhecimento necessário da magia de sua tia para colocar em prática seus planos. Por mais que nós leitores entendamos que as mulheres daquela época eram muitas vezes subjugadas e sofriam diversos maus-tratos de seus maridos (o que é apontado pelo autor na história), o que não é muito diferente dos dias de hoje, e que Medeia tinha sido abandonada pelo homem que amava com dois filhos para sustentar (e ela destaca que Jáson nem se preocupava mais em ajudar com o sustento das crianças), expulsa do país sem ter para onde ir... embora saibamos tudo isso e compreendamos sua enorme dor.... nada justifica toda sua maldade. 

Temos que lembrar que Medeia já era má antes da traição de Jáson. Por conta da obsessão que tinha por esse homem desprezível, ela já tinha traído seu próprio pai (matando, inclusive, o próprio irmão) e seus amigos, tinha causado mortes e outras destruições, tudo para agradar esse homem. Por amá-lo se tornou uma assassina. E por odiá-lo se propunha inclusive a matar seus próprios filhos. Era como se toda sua vida se resumisse a Jáson e nada mais importasse. Não senti pena da Medeia. Tudo o que essa protagonista/antagonista me provocou foi desprezo. Ela era uma vergonha para nós mulheres ao resumir toda sua vida a um homem, que ainda por cima valia droga nenhuma. Ela era uma víbora da pior espécie só em pensar em matar seus filhos por causa de um homem. Uma mãe de verdade jamais pensaria em matar ou mataria um filho por motivo algum. 

"Assim, entendo que alguém, se além de mau é hábil no falar, merece punição ainda mais severa, pois confiado no poder de seus discursos para ocultar os maus desígnios com palavras bonitas, não receia praticar o mal."

Jáson e Medeia eram realmente feitos um para o outro, pois combinavam bastante em sua lábia e maldade. Ambos eram habilidosos na arte de se expressar e convencer as pessoas, do mesmo modo que não se importavam com as consequências ao irem atrás do que desejavam para si. Desprezei o Jáson desde o primeiro momento, mas quando ele veio com aquele discurso ensaiado, tentando seduzir a Medeia com as palavras e convencê-la de que tudo o que tinha feito foi por ela e pelas crianças mais ódio senti por esse homem. Ele era um verme e a Medeia o merecia. Eram um casal de monstros e os únicos inocentes nessa história toda eram as crianças, que não mereciam pais tão horríveis. 

"Ah! Zeus! Por que deste às criaturas humanas recursos para conhecer se o ouro é falso, e não puseste no corpo dos homens marcas que nos deixassem distinguir os bons dos maus?"

O clímax da história é digno de lágrimas, como já se pode imaginar. O final nos choca pela maneira como Medeia é mostrada, quase uma deusa vingativa, e seu último embate com Jáson. É realmente uma peça marcante e entendo bem como conseguiu sobreviver ao tempo e se tornar tão famosa e estudada até os dias atuais. 


Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino, Felipe e Damon (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

8 comentários:

  1. Olá, Luna.

    Essa me parece ser uma leitura bem diferente, até então eu não conhecia o livro.
    Nem preciso citar que a curiosidade fica a respeito desse casal, ambos parecem ser loucos, é como você disse, um merece o outro.
    É um estilo de livro totalmente diferente daquilo que estou acostumada a ler, mas só pela curiosidade eu quero conhecê-lo!

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  2. Oi, Luna!
    Como curso letras, na faculdade a gente acaba lendo muitas tragédias gregas. Lembro que essa foi uma delas, eu tive que ler umas duas vezes para entender todo o desenrolar, pois uma história é ligada a outra. Apesar de ser bem interessante, não é uma leitura que eu faria para passar o tempo.

    Beijos.

    Books and Movies
    www.booksandmovies.com.br/

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  3. Oi, essa peça acho que eu ainda não conhecia, mas fiquei com vontade de ler pela sua resenha. Parece uma história que realmente meche com o leitor, ao trazer Medeia e seu plano de vingança cruel.

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  4. Oiiii!
    Não conhecia o livro, mas ADOREI me deparar com a sua resenha, esse semestre terei uma materia relacionada a tematica do livro, então já anotei a dica aqui
    bjos

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  5. Olá, tudo bom?
    Eu tenho muita vontade de ler as tragédias gregas, no entanto, é desgraça demais para minha cabeça kkkkk Achei interessante a trama de Medeia e fiquei bem curiosa para conferir, apesar de parecer algo bem confuso e denso. Mas saber desses personagens odiáveis e do clímax digno de levar as lágrimas acabou me animando, então acredito que vou dar uma chance a essa trama em algum momento. Dica anotada!
    Beijos

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  6. Olá, tudo bem Luna?

    Eu gosto muito dessa coleção de clássicos da Zahar, são edições lindas e super caprichadas. Eu particularmente tenha essa edição do teatro grego, mas ainda não li e pretendo ler esse ano.
    Abraço!

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  7. Eu conheço essa historia, sei sobre o que ela fala Luna, mas nunca parei realmente para ler e conhecer de perto sobre, quero muito essa edição da Zahar e realmente descobri o que levou a personagem a fazer tudo que ela fez e como ela fez cada uma das suas vinganças.


    wwww.coisasdemineira.com

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  8. Oiii tudo bem???

    Meu Deus, te admiro, achei que ia falar que ficou com medo de ler por ser uma leitura pesada e difícil e a primeira, mas não, vc já está acostumada, ja lê. Eu por sinal não me aventuro nesses mares ainda.
    Não sou muito fã, e estou me aventurando em clássicos agora, imagina tragedias gregas. To longe disso.
    Essa por sinal eu não conhecia e adorei sua resenha.
    Bjus Rafa

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