Tradutor: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Edição de: 2016
Páginas: 208
Onde comprar: Amazon
Sinopse: O menino que virou gafanhoto e fugiu com os gansos. A princesa com língua de cobra à procura de um príncipe com quem se casar. Canibais ricos que comem braços de peculiares. Essas são apenas algumas das histórias reunidas nesta coletânea pelo estudioso Millard Nullings, o menino invisível acolhido no lar da srta. Peregrine. Passados de geração em geração há séculos, os Contos guardam, em suas histórias sombriamente divertidas, informações valiosas sobre o mundo peculiar. Saiba como foi criada a primeira fenda temporal, acompanhe a batalha das pombas de Londres contra os humanos e descubra os detalhes inusitados nos surpreendentes comentários e notas de Millard. Um livro fascinante para qualquer leitor e um delicioso presente para os fãs da série.
Olá, queridos! :D
Quem estiver acompanhando meus posts mensais sobre os contos que estou lendo desde o início do ano, vai perceber que esta resenha na verdade é apenas uma junção de todos os comentários que já fiz sobre cada conto presente na coletânea Contos Peculiares.
Como vocês sabem, eu ainda não tive coragem de ler a série O Lar da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, então resolvi começar pelos contos deste livro para ver se assim, futuramente (risos), conseguirei apostar nos demais livros do autor. Foi uma escolha maravilhosa, pois amei muitos dos contos desta coletânea e me diverti com a maneira inteligente de escrever e passar "verdade" do autor. Muitos dos contos possuem notas de rodapé que fazem parte da fantasia, mas dão aquela impressão de realidade, sabe?rsrs Sabemos que o autor Millard não existe (ele é apenas um personagem da série), mas aparece aqui como o organizador da coletânea e seus comentários e explicações em alguns contos são incríveis. Eles te lançam dentro do livro, para que você acredite, pelo menos durante a leitura, que tudo aquilo é real.
Ao todo são 10 contos, uns diferentes dos outros, e apesar de alguns serem um pouco assustadores, a maioria te encanta e todos possuem aquela moral que geralmente vemos nas fábulas.
Em Os esplêndidos canibais temos a história de uns aldeões peculiares que viviam num pequeno povoado e eram muito humildes, mal tendo o que comer ou onde morar. Um belo dia, três visitantes aparentemente doentes passaram pelo local. Apesar da aparência esquelética, eles estavam bem vestidos e pareciam muito ricos. Diziam estar com muita fome e que se não comessem o mais rápido possível na certa morreriam.
Os aldeões, apesar de muito pobres, ofereceram tudo o que tinham para os visitantes, mas receberam um "não" educado como resposta, pois aquelas pessoas não se satisfaziam com alimentos vegetais ou carne de animais. Elas precisavam comer pessoas para viver. Esta era sua peculiaridade. De início, os aldeões ficaram muito assustados, mas não demoraria para que uma história macabra se desenrolasse.
Eu fiquei bem chocada com este conto. Me provocou náuseas, mas valeu a leitura pela moral contida nele. Dizem que o amor pelo dinheiro é o maior dos males. Eu diria que vai além disso. A cobiça, a inveja, o desejo de possuir cada vez mais bens materiais, nunca estando satisfeito com o que tem... a soma de tudo isso pode provocar sérios danos.
A Princesa da Língua Bifurcada conta a história de uma princesa peculiar, que possuía uma língua bifurcada e escama nas costas. Ela vivia de forma muito solitária e praticamente não falava com ninguém, exceto sua criada, que era a única a conhecer sua condição estranha. Ela morria de medo do que os outros poderiam pensar. Então, seu pai resolve prometê-la em casamento a um príncipe que ela jamais tinha visto, para poder unir os dois reinos e livrá-los de uma iminente guerra. Impressionado com a beleza que o rosto da jovem possuía, o príncipe apenas ficou incomodado com o fato da sua futura esposa não responder verbalmente suas perguntas, apenas balançava a cabeça. Não querendo começar o casamento com mentiras, a princesa resolveu conversar em particular com o noivo e revelar seu segredo, já que o mesmo afirmara que nada o faria mudar de ideia sobre o casamento. Pois bem. Ela contou e a reação dele foi a pior possível. A partir daqui não digo mais nada, pois é interessante se surpreender com os acontecimentos subsequentes. É uma história que nos faz refletir sobre o tratamento que muitas pessoas recebem de sua família, amigos e desconhecidos apenas por serem diferentes, por não se encaixarem em determinados padrões. Acho que o final pode desagradar algumas pessoas, mas eu gostei. Tinha que terminar assim.
A primeira ymbryne é um dos melhores contos que já li. A história te prende desde o início, mesmo que você não seja lá muito fã de fantasia.rs
O conto traz a história de Ymeene, uma jovem ave que possuía a peculiaridade de se transformar em humana. Sua família de gaviões não a compreendia e a julgava uma ave muito "estranha", fazendo com que ela não se sentisse realmente como parte deles. E, quando seus irmãos, apaixonados por sangue e guerra, foram massacrados numa batalha terrível, Ymeene resolveu partir, disposta a construir seu próprio destino.
Nada é fácil para ela, pois mesmo como humana era obrigada a lidar com a desconfiança e a maldade de outras pessoas. Assim, após muito sofrimento, ela acaba conhecendo mais peculiares e encontra seu lar ao lado deles. Mas como toda felicidade dura pouco... semelhante a caçada às bruxas, os peculiares acabam perseguidos pelas pessoas comuns que desejavam vê-los mortos, por não conseguirem aceitar suas diferenças.
"- Estou memorizando o rosto de minha amiga. Para me lembrar de você mesmo na morte."
Vale muito a pena ler este conto. Como os outros presentes neste livro, ele também contém uma moral. Amei a personagem Ymeene e seu crescimento ao longo das páginas. Ela encontrou o próprio caminho e aprendeu muito sobre o que realmente importa nesta vida. Sua coragem e força são admiráveis.
Em A mulher que era amiga de fantasmas conhecemos a história de uma jovem que perdeu a irmã gêmea quando ainda eram crianças. A menina se afogou e foi a partir deste momento que elas se tornaram inseparáveis, uma vez que ela passou a conversar e brincar com a irmã morta, pois sua peculiaridade (o nome desta coletânea é Contos Peculiares, só para lembrar) é ver e falar com pessoas mortas, com fantasmas.
Apesar do tema um tanto assustador e triste, o conto na verdade nos faz rir muito. Porque a personagem passa por situações tão inusitadas que é impossível segurar o riso, sobretudo quando ela decide conquistar novos amigos fantasmas, pois sua irmã precisava resolver alguns assuntos no além-mundo e já não poderia mais estar ao seu lado. Se sentindo sozinha e sendo vista como "estranha" pelas pessoas vivas decide estabelecer laços de amizade com outros fantasmas, só que tudo dá muito errado.rs O conto não tem nenhuma intenção de ser triste, parece ter justamente o objetivo de fazer rir e o final foi desejado, mas não esperado. Gostei muito de como tudo terminou, sobretudo porque sou uma romântica (e o final é bem bonito).
Cocobolo não me agradou tanto quanto o anterior. Nele temos o Zheng que é um rapaz que idolatrava o pai, que o tinha como herói enquanto era criança. Ocorre que seu pai desapareceu e ninguém jamais conseguiu encontrá-lo. Com o passar do tempo, a tristeza pela ausência da pessoa que ele mais amava se transforma em vergonha quando ele começa a dar ouvidos às fofocas sobre as excentricidades de seu pai. Determinado a ser diferente dele, embora fosse parecido em diversos aspectos, se afasta ainda mais do antigo amor, até já não lhe restar praticamente nada daquele sentimento. Não direi como o conto prossegue, mas senti tanta raiva do Zheng! Embora compreenda alguns dos sentimentos não consegui perdoá-lo pela forma como jogou o amor fora, como desprezou aquele que tanto o amou. O que me emocionou muitíssimo foi o final, mas não por conta do protagonista, mas sim de um outro personagem.
As pombas (da Catedral) de St. Paul é o sexto conto presente no livro. Este conto nos traz a história do ódio que existiu, durante séculos, entre os humanos e as pombas peculiares. No início, as pombas os toleravam por conta dos restos de alimentos que eles deixavam cair e serviam de comida para elas. Todavia, quando os humanos resolveram investir em construções que invadiam o espaço das pombas com seus prédios cada vez mais altos, elas convocaram uma reunião e milhares delas concordaram que a melhor forma de detê-los era declarando guerra. Qualquer construção com mais de dois andares seria destruída. E assim elas fizeram, provocando incêndios cada vez mais graves. Ao se darem conta de que tais destruições eram um ato de vingança das pombas, os humanos revidaram, assassinando muitas delas. E, desta forma, a guerra durou anos, com perdas de ambos os lados.
Achei a história muito interessante, sobretudo pela forma como as coisas se modificam quase no final e entendemos o sentido do título.
Em A menina que domava pesadelos, temos uma criança que sonha em ser médica, mas em seu país, naquela época, nenhuma mulher jamais conseguira ingressar numa faculdade de Medicina, pois era algo para homens. As meninas aprendiam apenas a tricotar e cozinhar nas escolas, enquanto as ciências ficavam para os meninos. Todavia, Lavinia não se dava por vencida e, escondida, pegava os livros de ciências para estudar.
Sua história sofre uma guinada estranha quando seu pai, que era médico, atende uma pessoa atormentada por pesadelos. Decidida a examinar o paciente, Lavinia observa que dentro do ouvido dele existia uma massa escura e resolve puxá-la, vindo a se deparar com fios e mais fios negros. O mais extraordinário é que, após isso, o menino nunca mais teve pesadelos. Este primeiro paciente era seu irmão, mas depois deste episódio, Lavinia veio a curar outras pessoas, decidindo que aquele era o seu dom e que poderia lidar com ele, embora tivesse apenas onze anos.
Eu achei este conto fascinante, um dos meus preferidos da coletânea, e confesso que fiquei surpresa com os acontecimentos finais. Não esperava por algo assim.
O gafanhoto traz a história triste de um menino que não era amado.
Ollie tivera o azar de nascer filho de um homem que acreditava que o amor era uma fraqueza, que te impedia de realizar aquilo que você desejasse. Embora amasse profundamente sua fazenda e tivesse resolvido amar a esposa, seu pai decide não dispensar tal sentimento com o filho, sobretudo porque com seu nascimento, Ollie levara a vida da mãe, o que seu pai considerava imperdoável, não importando se ele tinha culpa ou não.
Diferente de Edvard (seu pai), Ollie tinha um coração enorme e sensível, sempre pronto a amar. O curandeiro da região acreditava que o menino fosse um peculiar, embora sua peculiaridade provavelmente só fosse se manifestar anos depois.
Com o tempo e uma determinada tristeza, todos souberam qual era a peculiaridade de Ollie: de assumir a forma de algo que o fizesse sentir-se amado. Como era profundamente desprezado pelo pai, o menino dedicou seu carinho a um simples gafanhoto e quando Edvard jogou o inseto no fogo, a tristeza do garoto foi tão grande que ele assumiu a forma de um gafanhoto e fugiu. Arrependido por todo o sofrimento que tinha causado ao filho, Edvard implora pela ajuda dos vizinhos para encontrá-lo, mas já é tarde demais.
A história termina de um jeito bem bonito. Gostei muito!
O garoto que podia controlar o mar é um conto que nos faz refletir sobre certas relações humanas bastante nocivas. Fergus era um garoto com um estranho dom: ele podia controlar o mar. Apesar de poder ter uma vida boa por conta desta peculiaridade, passava fome ao lado da mãe, pois ela era uma mulher de saúde fraca e seria impossível viajar com ela para um lugar em que encontrassem comida. Todavia, em seu leito de morte, a mãe o faz prometer que irá embora daquele lugar e que jamais revelará seu dom para ninguém, pois apenas fariam da sua vida um inferno. Assim, Fergus parte disposto a cumprir suas promessas.
Acontece que certas situações o fazem ter que quebrar a promessa de não contar sobre o dom. E, a partir disto, vemos como a vida do personagem é afetada, pois tentam usá-lo como um objeto. E quando dependiam de atitudes dele para conseguir algo, podiam tanto adulá-lo como ameaçá-lo, bem como descartá-lo quando não precisavam mais. O egoísmo e interesse daquela gente é revoltante e conseguimos compreender a raiva e o desejo de Fergus de seguir seu caminho sozinho, pois os seres humanos não sabiam ter amigos ou relações saudáveis, eles agiam apenas por interesse, por conveniência.
A história de Cuthbert é uma das que mais me emocionaram. É bem curtinha (neste livro alguns contos são bem longos, outros curtos e ainda tem os bem curtos.rs), mas por ter dois finais tão diferentes um do outro acabou por quase me fazer chorar.rs Cuthbert é um gigante muito bondoso que vive numa floresta habitada por animais comuns (que conhecemos na vida real), mas também por animais peculiares, que são os preferidos dos caçadores. Ele é o protetor dos animais da floresta, impedindo que os caçadores ou mate ou sequestre (para venderem para zoológicos), mas num determinado dia algo horrível acontece...
Eu fiquei muito triste pelo Cuthbert. Tudo bem que o autor criou dois finais, mas mesmo assim ficou aquela dorzinha no coração. :(
A edição é belíssima, em capa dura, com ilustrações encantadoras! Eu fiquei apaixonada por este livro, é um dos maios lindos da minha estante. E claro que recomendo muito! Até mesmo quem não aprecia fantasia vai gostar dos contos presentes nesta coletânea. Vale muito a pena!
Olá, Luna.
ResponderExcluirAssim como você, eu acho que irei começar a leitura por esses contos.
Já lhe disse que a série não me chama muito a atenção, mas o conto dos aldeões conseguiu despertar minha curiosidade. Mesmo que eu não vá ler a série, acho que é valido ler esse livro.
Até hoje nunca tive vontade de ler a série d Lar da stra Peregrine, mas fiquei bem interessada pelas histórias desse livro de contos! Parecem ser bem intrigantes do jeitinho que eu gosto! Dica anotada!
ResponderExcluirAdoro livros de contos, mas sempre vejo falando que os deste livro são assustadores. Meu nível de terror é zero, tenho medo de quase tudo e por isso nunca encarei kkkkk Pela sua resenha vi que alguns são assustadores, porém trazem reflexões pertinentes a vida, e as relações atuais e isso é necessário para o leitor, independentemente do gênero literário. Gostei do "As pombas (da Catedral) de St Paul, recentemente participei de uma discussão engraçada acerca da relação das pombas com os humanos. Uma pessoa no Twitter fez um post indignadíssima com as pombas que, segundo ela não voavam mais assim que se chegava perto, era como se eles estivessem afrontando os humanos rs, ri bastante disso, mas seu conto me fez refletir sobre essa questão do humano que invade todos os espaços e consequentemente a destruição maçante do meio ambiente.
ResponderExcluirOlá Luna!!!
ResponderExcluirEu vi alguns posts seus acerca dos contos e sim o primeiro me deu náuseas só pelo que você contou rsrsrs
Como você ainda não tive coragem para ler os livros do autor da série, mas a ideia é ler esse ano ainda (o que espero acontecer) porém acho que estou com receio por todos me dizerem que a história escrita por ele é muito boa.
Ai essa edição é maravilhosa e um xodózinho da minha estante também rsrsrs
Parabéns pela resenha!!!
lereliterario.blogspot.com
Eu amo demais este universo e adorei este livro e essas histórias que nos mantem ligados a essas peculiaridades que não foram exploradas na trilogia original. sem afalar do projeto gráfico que a editora trouxe. Linda demais.
ResponderExcluirbeijos