(Título Original: The boy in the striped pyjamas: a fable
Tradutor: Augusto Pacheco Calil
Editora: Companhia das Letras
Edição de: 2013)
É muito difícil descrever a história de O menino do pijama listrado. Normalmente, o texto de orelha traz alguma dica sobre o livro, alguma informação, mas nesse caso acreditamos que isso poderia prejudicar sua leitura, e talvez seja melhor realizá-la sem que você saiba nada sobre a trama.
Caso você comece a lê-lo, embarcará em uma jornada ao lado de um garoto de nove anos chamado Bruno (embora este livro não seja recomendado a garotos de nove anos). E cedo ou tarde chegará com Bruno a uma cerca.
Cercas como essa existem no mundo todo. Esperamos que você nunca se depare com uma delas.
Palavras de uma leitora...
- Hoje aqui não há alegria. Esta é uma resenha triste sobre um livro que partiu meu coração. Talvez você já conheça a história. Eu a conheci anos atrás quando assisti a adaptação para o Cinema. Lembro do quanto chorei na época, mas mesmo assim quando soube que existia o livro quis lê-lo. Ainda que soubesse com antecedência que ficaria destroçada. Mas eu queria conhecer o Bruno e o Shmuel... de um modo que o filme não conseguiria mostrar.
Esta é uma história de amizade. De amor. Mas também de guerra e ódio. Há um pequeno menino de nove anos chamado Bruno que não entende por que as coisas estão tão diferentes. Há uma cerca e um campo de concentração, onde meninos de sua idade usam sempre pijamas e parecem muito tristes. Entre esses meninos está Shmuel. Aquele que se tornaria o seu melhor amigo.
- Bruno não entendia por que tinha que abandonar sua casa e seus amigos e mudar-se com a família para outro lugar. Não aceitava a decisão de seu pai e tudo o que sabia é que aquilo era culpa do tal Fúria, o homem desagradável que certa noite jantara em sua casa e provocara uma discussão entre os seus pais. Mas o Fúria transformou seu pai em comandante, o que quer que aquilo significasse, e todos precisavam se mudar por conta da nova "missão" que ele recebeu. Mesmo batendo o pé e deixando claro o quanto estava furioso com os acontecimentos, Bruno era apenas um menino de nove anos, cujos sentimentos não eram levados em conta diante de algo tão importante.
O consolo de Bruno era que a mãe também não parecia muito feliz e isso talvez os fizesse voltar para casa num futuro previsível, como ela costumava dizer, embora ele não soubesse o que seria um futuro previsível. Talvez significasse três semanas. Ou menos. Era sua esperança.
"Porém, havia algo a respeito da casa nova que fazia Bruno pensar que ninguém jamais ria por lá; que não havia motivo para riso e nada com que se alegrar."
Tudo era muito diferente na casa nova. Além de ela não ser tão grande quanto sua verdadeira casa, existiam soldados por toda parte, entrando e saindo como se fossem donos do lugar. Bruno não gostava deles, mas aquele que lhe provocava verdadeiro pavor era o tenente Kotler, um rapaz de dezenove anos que não hesitava em agir de maneira cruel com o servente que ia toda tarde até a casa de Bruno para cuidar dos legumes. O senhor Parvel. Aquele que era médico antes, mas agora não era mais, embora Bruno também não compreendesse isso.
Seus dias naquele lugar eram muito solitários, pois só contava com a companhia da irmã, que era um Caso Perdido, e gostava de aproveitar o fato de ser alguns anos mais velha para poder infernizá-lo. Daí o fato de ser um caso perdido. Mas existia uma coisa que despertava a curiosidade de Bruno: a cerca e que o tinha além dela. O lugar que ele conseguia ver da janela de seu quarto. Por que todas aquelas pessoas usavam pijamas? E com tantas crianças naquele lugar ele não deveria estar tão sozinho. Todavia, no fundo de seu coração sentia que não deveria falar com os pais para convidá-los, que existia alguma coisa errada, embora ele não soubesse o quê.
"Ah, aquelas pessoas", disse o pai, acenando com a cabeça e sorrindo levemente. "Aquelas pessoas... Bem, na verdade elas não são pessoas, Bruno."
Quando finalmente criou coragem para mencionar o que tinha visto, Bruno recebeu uma resposta muito estranha do pai. Porque quando olhava para aqueles seres humanos da janela de seu quarto eles certamente lhe pareciam pessoas. Um tanto diferentes dele, é verdade, pois estavam sempre com pijamas e pareciam muito pálidos e magros, mas ainda assim eram pessoas. E quando explorando o lugar escondido de seus pais ele conheceu Shmuel teve ainda mais certeza de que, independentemente do que o pai dissesse, não havia muita diferença entre ele e o outro menino.
Assim uma amizade improvável foi se construindo. Bruno ia toda tarde até a parte da cerca que parecia menos fixa para sentar-se diante de Shmuel e conversar. Eles não podiam brincar. Bruno não podia atravessar para o outro lado, bem como Shmuel não podia vir para o lado dele. No entanto, ele nunca se sentiu tão próximo de outro ser humano, nem mesmo quando tinha seus outros amigos na casa antiga. Com aquele menino que tinha sua idade e nascera no mesmo dia, mês e ano que ele, uma coincidência fascinante, ele sentia que poderia falar de qualquer coisa. Porém, seu coração se entristecia quando olhava para Shmuel e via como ele era tão magro e parecia sempre faminto. E seus olhos... neles existia uma tristeza tão grande como Bruno jamais vira em outra pessoa. Ele não entendia nada. E tinha medo de entender. Mas se tinha uma coisa que sabia é que seria amigo dele até o fim. Seriam amigos para sempre.
"Ele olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas.
'Você é o meu melhor amigo, Shmuel', disse ele. 'Meu melhor amigo para a vida toda'. [...]"
- Posso dizer com toda sinceridade que não tenho muita força para fazer esta resenha. Este livro me deixou mal. E tudo o que chorei com o filme não se compara ao pranto que este livro provocou. Quando estava chegando às páginas finais tive uma crise tão forte que assustei minha mãe e minha irmã, que não entendiam por que eu estava daquele jeito. Minha mãe sentou do meu lado enquanto eu chorava tanto que nem conseguia falar. E quando a crise diminuiu e pude explicar disse: "Eu não suporto mais este mundo, mãe. Não suporto mais tanta crueldade." E realmente não suporto, gente. Estou cansada de ver tantas infâncias perdidas, tantas crianças passando por coisas que nenhum ser humano deveria passar. Estou cansada das notícias de estupros, assassinatos, desaparecimentos. Estou cansada de uma humanidade que só sabe fazer o mal ao próximo. Quando isso vai acabar? Acho que nunca. Porque se tem uma coisa que o ser humano aprendeu ao longo dos séculos foi a ser cada vez pior.
"Mas, Luna, é apenas um livro." Acredito que todos aqui sabem que não. A Segunda Guerra Mundial existiu. Hitler existiu. O nazismo existiu, embora há quem diga que não e ainda há quem sabe que existiu e defende esse tipo de monstruosidade. O nazismo provocou a morte de milhões de pessoas. Não só com o Holocausto dos judeus, mas também com todos os vitimados pela guerra e outros grupos que eram perseguidos e eliminados: comunistas, deficientes físicos e/ou mentais, opositores do governo, religiosos, ciganos, homossexuais. E crianças não foram poupadas. Eu lembro que assisti uma resenha certa vez, de uma booktuber que tem um canal mais voltado para livros sobre História e crimes reais, na qual ela falou sobre o livro de uma mulher que viveu num campo de concentração. E o que me marcou nesta resenha foi que essa mulher tinha filhos e ela viu que as crianças mais novas, até determinada idade e os idosos eram enviados para uma parte diferente. Acreditando que aqueles grupos mais frágeis provavelmente estavam indo para um lugar melhor, que seriam poupados do trabalho forçado, ela mentiu sobre a idade de seus filhos, na esperança de salvá-los. Somente depois ela descobriu que aquele grupo separado (de crianças pequenas e idosos) foi o primeiro a ser executado. Porque as pessoas que faziam parte dele de nada serviam, por serem novos ou velhos demais. Foi nesse momento que parei de assistir a resenha. Não suportei continuar.
"E os caminhões nos levaram a um trem, e o trem.." Ele hesitou por um instante e mordeu o lábio. Bruno pensou que ele ia começar a chorar e não entendeu por quê.
"O trem era horrível", disse Shmuel. "Havia muitos de nós nos vagões, para começar. E não havia ar para respirar."
- Apesar de narrado em terceira pessoa o livro é contado de maneira simples, mostrando a visão de Bruno sobre os acontecimentos, da forma que uma criança tão nova enxergaria as coisas. E isso torna o livro mais difícil. Porque a gente consegue perceber o que Bruno não conseguia. Ele era muito inteligente e bondoso, nunca se esquecendo da educação que sua mãe lhe deu. E quando via algo que lhe parecia errado, como quando o tenente Kotler agrediu o servente Parvel (um dos judeus que estavam no campo de concentração, mas que era conduzido até a casa para descascar um monte de legumes todos os dias) ele não suportava. Enquanto seu pai, a mãe e a irmã viraram o rosto, desconfortáveis, Bruno caiu em prantos, pois aquilo estava muito errado e alguém precisava fazer alguma coisa. Não se devia bater num empregado. Aquilo não estava certo. E uma das coisas que atormentava a cabeça de Bruno sobre o Parvel era o fato de ele ter sido médico e ter deixado de ser. Nada daquilo fazia sentido para ele. Era tudo uma grande confusão.
Quando a amizade entre Bruno e Shmuel começa nosso coração se aperta ainda mais, pois até mesmo quem desconhecesse por completo a história do livro saberia que tudo poderia terminar mal, pelo simples fato do livro se passar durante a 2ª Guerra Mundial e tratar da amizade entre o filho de um comandante, responsável por um campo de concentração, e um judeu preso neste campo. A gente até poderia não saber como as coisas terminariam, mas diversas seriam as teorias que se passariam por nossa mente. Eu não vou dizer se o livro realmente termina mal ou se as coisas tomam um rumo inesperado e têm um final feliz. Deixo que vocês descubram lendo.
"Estamos corrigindo a história aqui."
- Como eu disse, o livro mostra a visão de Bruno sobre os acontecimentos, mesmo assim conseguimos perceber muita coisa através do que ele via ou escutava, embora ele próprio não entendesse. O trecho acima, por exemplo, mostra no que o pai dele e muitos outros personagens acreditavam. Bruno tinha um professor obcecado por História, mas uma História parcial, claro. E quando o menino confessou ao pai que odiava estudar história, seu pai lhe explicou a importância de tal matéria e que era justamente por conta disso que estavam onde estavam, corrigindo a história. Tais ensinamentos são transmitidos para a Gretel, irmã de Bruno, que tinha doze anos e compreendia melhor as coisas, embora não tudo. Foi Gretel que explicou ao menino que as pessoas do outro lado da cerca eram judeus e que, portanto, Bruno não poderia se misturar com gente daquela "laia".
"Estou perguntando: já que não somos judeus, o que nós somos então?"
"Somos o contrário"
"[...] 'Então, por que não gostamos deles?', perguntou ele.
'Porque são judeus', disse Gretel.
'Entendi. E o contrário e os judeus não se dão bem.'
'Não, Bruno', disse Gretel [...]"
- Mesmo após descobrir pela irmã o que tanto o diferenciava dos seres humanos do outro lado da cerca, que segundo o pai não eram pessoas, Bruno não se importou. Sua amizade com Shmuel continuou, sendo o seu segredo, já que ele teve ainda mais certeza de que não poderia contar a ninguém. Quando olhava para o amigo e para si mesmo ele não enxergava um judeu e um contrário. Enxergava outro menino como ele. Alguém com quem ele se importava muito e com quem pretendia brincar quando tudo aquilo terminasse e todos pudessem voltar para suas verdadeiras casas. Por que o que quer que estivesse acontecendo um dia terminaria, certo? E tudo voltaria ao normal.
A amizade entre os dois é muito bonita de acompanhar, mas também é triste demais. Várias coisas acontecem... sobre as quais nem comentarei. É doloroso ver a inocência das duas crianças que não entendiam o que havia de tão errado com o mundo, só sabiam que algo estava errado e que só podiam ser amigos se aquilo fosse um segredo. Bruno não sabia porque o amigo estava sempre com fome e tão magro, com a pele acinzentada, mas sempre levava um pouco de comida para ele quando se encontravam. Uma das cenas que me fez cair em prantos foi quando o Shmuel disse que já não sentia mais nada. O menino estava com o rosto todo machucado e Bruno acreditando que ele provavelmente tinha caído de uma bicicleta ou algum menino mais velho implicara com ele, perguntou:
"[...] Está doendo?
'Nem sinto mais', disse Shmuel.
'Parece que dói.'
'Já não sinto mais nada', disse Shmuel."
- Este "já não sinto mais nada" foi muito difícil para mim, pois resumiu numa só frase a situação desesperadora em que aquela criança estava, cada vez mais magra e debilitada, passando fome e fazendo trabalhos duros, sendo espancada pelos soldados (pois o livro diz isso nas entrelinhas) e encontrando um alento apenas nos momentos em que sentava de frente para o amigo para que conversassem. Shmuel era tão inteligente quanto Bruno, e ele parecia saber mais sobre a sua situação do que o outro garoto. E uma coisa bonita e muito triste era quando ele tentava poupar Bruno de certas verdades. Ele sabia que o amigo era muito bom e não merecia saber algumas coisas sobre o próprio pai, por exemplo. Então Shmuel o poupava, preferindo ficar em silêncio. A amizade entre os dois foi muito simples e verdadeira. E encerro esta resenha aqui porque sei que vou voltar a chorar.
Olá! Realmente tem história que já sabemos como irá acontecer mesmo assim é mexe conosco. Apenas assisti o filme e ele também tirou lágrimas de mim. Assistir às vezes deixamos passar algumas coisas ditas, acredito que por estamos ligados a cada palavra e acontecimento da história realmente deve sere mais intenso a leitura. Realmente é cansativo ver as atrocidades do mundo, o que podemos faz é nossa parte, mesmo que por mais simples for o nosso gesto. O bom do livro ser em terceira pessoa é ter uma visão maior da história que um personagem pode não conseguir passar. O menino do pijama listrado é uma história muito linda, intensa, forte e triste. Em sua resenha deu para perceber como essa história mexeu com você. É sua resenha ficou bem completa, se alguém não conhece essa história e ler vai quer saber mais. Beijos'
ResponderExcluirMuito triste essa história e comovente, mas digo que gostei demais da leitura. O filme corta muita coisa do livro, por isso recomendo a leitura primeiro. O que toca muito nessa obra é a inocência que a criança traz consigo.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Ahhh, como eu amo esse livro (e o filme também)! Foi um dos primeiros livros que li na vida, e simplesmente amei, apesar de ter me deixado muito triste. Adorei tua resenha!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Ahh, eu choro só de ler a premissa desse livro. Sério.
ResponderExcluirEu vi o filme, mas o livro não li ainda, tava na minha lista pra esse ano, mas mha médica pediu pra evitar filmes/livros com temática que me deixem ansiosa ou tristes, então tive de cortar da lista pelo menos por ora, mas sempre que vejo essa capa quero retornar ele pra lista o mais rápido!
A propósito eu acho essa capa tão linda. É uma capa simples e talvez por isso mesmo tenha todo um encanto, uma suavidade que casa bem com o título, apesar da dor que traz dentro.
Olá!
ResponderExcluirAinda não li esse livro mas pretendo ver o filme logo, e acho muito triste e comovente ele e isso me afasta para ler.
Assisti ao filme e nunca pensei que meu coração pudesse se rasgar tanto, e sempre que vejo algo relacionado a ele ou ao livro já sinto um nó na garganta. Não creio que conseguiria ler, pois sofro demais com enredos baseados em fatos reais. Me emocionei com suas palavras sobre a maldade que nos cerca. Realmente o mundo é cruel, e saber que ainda existem pessoas que apoiam os ideais nazistas me deixa sem chão.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirAcho esse livro lindo, triste, mas muito comovente.
Vemos amizades em tempos difíceis. Apesar de gostar de histórias em meio a Guerra, esse é um dos poucos que ainda não li.
Beijos!
Camila de Moraes
Oi!
ResponderExcluirEu já assisti a produção cinematográfica e amei! Chorei do começo ao fim e esse é um dos motivos pelos quais ainda não consegui ler o livro, sei que vou chorar. Obrigada pelas suas ponderações e por seu posicionamento literário.
Beijos!
Oi, eu ainda não vi o filme nem li o livro, talvez mesmo por temer que seja algo forte demais para mim, mas sei da importância dessa história para que não esqueçamos os horrores do Nazismo, inclusive os que afetaram as crianças como os garotos que se tornaram amigos nessa história.
ResponderExcluirOi, Luna! esse foi o único livro que li do autor e também me acabei de chorar. O final foi muito chocante e acabou que nem consigo ler mais nada do autor por medo de cair em prantos. rsrs (uma amiga minha disse que eu tinha que parar com isso, porque os livros dele são ótimos).
ResponderExcluirBjos
Lucy - Por essas páginas
Acho que o livro retrata um aspecto da época, que algumas pessoas (no caso a outra criança), não tinham noção do que realmente se passava dentro dos campos, alem disso, mostra os horrores da época pelos ollhos de uma criança o que aumenta o choque de realidade de me lê
ResponderExcluirEu ainda não tive coragem para ler esse livro porque sei o quanto ele vai mexer comigo e sei que no final vou desidratar de tanto chorar. Eu assisti ao filme há alguns anos e fiquei acabada.
ResponderExcluirGostei bastante de ver a sua resenha e saber qual foi a sua opinião com a leitura.
Oii, tudo bem? Adorei sua resenha e ver que também amou o livro. Essa é uma obra extremamente impactante! Também fiquei arrasada lendo essa história de amizade, e continuei me emocionando muito tempo depois de ler. Marcou fundo.
ResponderExcluirBeijos!
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirEntendo claramente sua emoção e dificuldade de falar deste livro, pois eu me senti exatamente da mesma forma. Lendo sua resenha eu fui revivendo a emoção de ler este livro que destroçou meu coração por todo seu enredo e por toda a maldade humana por trás do que foi o holocausto. Sua resenha está belíssima e despertou em mim uma grande emoção que senti ao decorrer da leitura. Parabéns por essa resenha incrível ♥
Beijos!