(Título Original: The Picture of Dorian Gray
Tradutor: João do Rio
Editora: Martin Claret
Edição de: 2014)
Escrito em 1890, este romance revela almas que se entregam a paixões e que são atormentadas por seus próprios pecados. Dorian Gray e Lord Henry mostram ao leitor duas faces diferentes de pecado e purificação. É considerada a mais intrigante obra de Oscar Wilde.
Palavras de uma leitora...
- Está aí uma sinopse que nada diz da história.rs Mas como a edição que possuo não vem com sinopse tive que colocar essa que encontrei no site da própria editora.
Eu tinha toda a intenção do mundo de ler este livro até a quarta-feira passada e depois me dedicar a um romance ou um suspense. Apenas desejava cumprir meu Desafio Mensal. Se eu dissesse que estava ansiosa para ler este livro estaria mentindo descaradamente: eu não estava. Sabia que era uma história perturbadora e que iria provocar um nó na minha cabeça. Eu já tinha todos os spoilers do livro e me julgava preparada para o que encontraria, mas não ansiava pelo momento.
Todavia, como a semana foi muito corrida e fiquei de lá para cá mal tendo tempo de respirar, não passei da página 40. Assim, tive que ler todas as outras 212 páginas do livro no sábado. O resultado foi que não tive um dia agradável e cogitei a possibilidade de ir até o latão de lixo e jogar o livro lá. Pensei seriamente em fazer isso. Por que a história é ruim? Longe disso! É um livro fantástico, muito bem escrito, único, para o qual dei 5 estrelas no Skoob (embora tivesse hesitado um pouco.rs). A questão é que é uma história podre, sórdida, maquiavélica. E não poderia ser diferente já que adentra pelo psicológico, mostrando com maestria a natureza humana, o comportamento patológico de certas pessoas que tendem para o que é destrutivo e que sentem verdadeiro prazer em desgraçar os outros. Se tem uma história que não te provoca nenhum sentimento bom com certeza é esta. E eu que achava que não poderia encontrar clássicos mais "sórdidos" que O Morro dos Ventos Uivantes e As Relações Perigosas!
- A história começa antes mesmo de conhecermos o jovem cujo quadro dá título ao livro. Primeiro conhecemos seu pintor, aquele para quem ele posava e nutria pelo modelo de suas obras um amor cada vez mais profundo, uma espécie de adoração... como se Dorian Gray tivesse se convertido em seu deus.
Naquele dia em particular, conversava com seu amigo, lorde Henry, sobre o Dorian e num impulso lhe confessara seus sentimentos pelo rapaz. Intrigado pela paixão contida nas palavras de Basil, a quem julgava insípido e incapaz de despertar interesse em qualquer pessoa, mais quis saber sobre a obra-prima inspiradora de tão peculiar comportamento.
"Subitamente, eu me encontrei face a face com o jovem cuja personalidade me havia tão singularmente intrigado; quase roçamos um no outro e, de novo, nossos olhares se cruzaram."
- Ao colocar os olhos pela primeira vez em Dorian Gray, Henry soube que aquele rapaz seria seu. Sua beleza era fascinante, mas o que despertava verdadeiramente a sua cobiça era ver naqueles olhos a pureza que se encontra naqueles que ainda não foram manipulados. Dorian era como uma página em branco na qual Henry poderia escrever o que bem quisesse. Ele ainda não possuía mácula. Cabia às suas mãos hábeis estragá-lo... e ele se divertiria muito no processo. Todavia, mais que as mãos ele utilizaria as palavras. Afinal de contas, existiria maneira mais eficaz de envenenar alguém?
"- Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma. Esta pessoa deixa de pensar por si mesma, deixa de sentir suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecados, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela."
- Pressentindo o perigo que seu objeto de adoração passava a correr por ter despertado a atenção do lorde Henry, Basil tenta apelar para qualquer vestígio de humanidade que exista em seu "amigo", implora que ele se mantenha afastado de Dorian, porque sua influência seria nociva. Mas mesmo antes de abrir a boca sabia que era em vão, embora, no fundo, desejasse acreditar que nada poderia roubar a beleza que Dorian possuía, algo que ia além da simples beleza física. Henry poderia tentar, mas certamente não o corromperia.
"Ele tentaria dominá-lo, como aliás, já havia feito."
Determinado a iniciar o jogo que o divertiria nos próximos meses, Henry não espera um só segundo para atrair a sua presa. Hábil com as palavras como poucos, sabia exatamente o que dizer para provocar sedução, para que Dorian quisesse estar ao seu lado, aprender o que só ele poderia ensinar. E não demorou para acontecer. Acompanhou com prazer as transformações que ocorriam no rosto do rapaz enquanto o mesmo experimentava novos sentimentos e uma deliciosa confusão.
"Ele apenas lançara ao ar uma flecha. Esta alcançara o alvo?"
Naquele dia tão decisivo para tantas vidas, Dorian posou mais uma vez para Basil, só que tudo foi diferente. Contaminado pela admiração que começava a sentir pelo lorde Henry, seduzido pelo que quer que existisse no outro, ele possibilitou ao artista pintar o mais magnífico retrato. Era como se sua alma tivesse sido transferida para o retrato. Nunca ninguém criou uma obra tão bela.
Com as palavras do outro correndo por seu corpo como sangue, Dorian olhou para o próprio retrato e enxergou nele tudo o que deixaria de ser um dia. Uma forte inveja de si mesmo tomou conta dele. Por que aquele retrato possuía o direito de ser imutável enquanto ele estava condenado a envelhecer, definhar e morrer? Por que não poderia conservar-se belo para sempre? Parar no tempo como aquele quadro?
"[...] Ah! se fosse possível mudar os destinos; se fosse eu quem devesse conservar-me novo e se essa pintura pudesse envelhecer! Por isto eu daria tudo!... Nada há no mundo que eu não desse... Até minha alma!...
Voltado para si mesmo e para a paixão por sua própria aparência, mal é capaz de notar que seus pensamentos já não são seus, que suas escolhas não são suas. Que tudo o que julgava acreditar na verdade era resultado do que Henry acreditava. Ele era uma marionete, um brinquedo para alguém experiente e astuto, que nutria um desprezo por tudo o que fosse bom e abraçava o que era perverso.
Com o passar do tempo, Henry passa a ser o centro da vida de Dorian. Onde quer que um estivesse o outro também estava. Como consequência, ele se afastava cada vez mais de Basil e da inocência que um dia possuiu. Porém, embora já não se sentisse capaz de resistir à influência do outro enxergava que seu "amigo" seria sua ruína, que já mal conseguia reconhecer-se na pessoa que era. E é quase com desespero que ele busca uma saída... uma chance de escapar do mundo no qual estava mergulhando. E é quando ele a encontra.
Sibyl Vane, uma atriz de dezessete anos, era tudo o que Dorian gostaria de ser. Bela, bondosa, dona de uma alegria e pureza emocionantes, ela lhe provocava sentimentos que ele nunca antes experimentara. Era como um anjo. Disposto a agarrar-se com força à sua oportunidade de salvação, ele acredita estar apaixonado por ela e promete-lhe casamento. Sabia que ao seu lado teria forças para se afastar de Henry, para ser o que era antes, para reencontrar sua própria alma.
E o que será mais forte? A bondade de Sibyl que o faz querer ser melhor ou a depravação que Henry lhe apresenta e parece tão impossível de resistir? Ainda existia realmente alguma chance?
- Houve uma época em que ouvia sem parar uma vez mesma música: Destino - Lucas Lucco. Realmente considero a música muito bonita e com aquele "ar triste' que aprecio nas canções.rs Só que o que mais me atraía era o clipe, que mostrava duas vozes falando na cabeça do personagem. Uma, quase inaudível, tentando convencê-lo do que era certo. E a outra, muito mais "viva" e atraente, dizendo exatamente o que ele deveria fazer e ia na contramão do que era bom. Qual foi a voz que o personagem da música Destino preferiu ouvir? É bem óbvio, verdade?
"Sim, Dorian, tu sempre me amarás; eu te represento todos os pecados que não tiveste a coragem de cometer.."
- Este livro me perturbou muito. Mesmo se eu não conhecesse spoilers da história antes de começar a lê-la seria capaz de prever o rumo que ela tomaria. Quanto mais profundamente conhecemos o Dorian, sua fraqueza de caráter e falta de inteligência própria... E, em contrapartida, observamos Henry, astuto, inteligente e sedutor, mover lentamente as cordas que guiam o protagonista... mais fácil é descobrir o final.
"Há não sei o quê de fatal num retrato."
Dorian cresce muito ao longo do livro. Melhor dizendo: ele decresce bastante. Não nego nem por um instante que a manipulação do lorde Henry contribuiu e muito para torná-lo o ser baixo e repulsivo que se tornou. Mas há um determinado momento da história em que, estando o protagonista exatamente onde e da forma que ele queria, Henry solta as cordas. E Dorian passa a seguir com as próprias pernas. É possível, então, percebermos que Dorian gostava da podridão que era a sua vida, que ele sentia prazer em fazer com outras pessoas o que seu amigo tinha feito com ele, superando, em vários aspectos, o seu mentor. Embora tivesse "crises de consciência" em que jurava para si mesmo que lamentava profundamente o que acontecera com outros personagens, nós sabemos que é mentira. Que ele desempenhava um papel para si mesmo, tentando convencer-se que nunca tinha a culpa de nada. Não dava a mínima para quantas vidas havia destruído. Já não tinha amor no coração. E não queria ter.
"Um ódio sombrio vivia no seu coração."
- E é aí que entra o quadro, que representa na história a própria alma do protagonista. O retrato de Dorian Gray, pintado na ocasião do primeiro encontro entre o lorde Henry e ele, era uma obra de tirar o fôlego, jamais vista por ninguém. Henry desejou comprá-la de Basil, mas este a deu de presente para seu modelo, apesar da crise de ciúmes e inveja que Dorian teve ao ver a própria imagem, por ser muito injusto o fato da imagem ali eternizada jamais envelhecer enquanto ele, que servira para criá-la, estar condenado ao definhamento e morte. Pois bem... Ao longo da história, conforme o protagonista se corrompe o quadro sofre transformações. Após seu primeiro ato de crueldade, por exemplo, as marcas de perversidade que deveriam estar em seu rosto aparecem no retrato e daí por diante. Quanto mais desumano ele se torna pior fica o retrato e, tomado pelo terror, ele decide esconder o quadro de todos, trancar à chave no local mais afastado na casa, impedindo que outros percebam o que estava acontecendo no seu interior. Ele acredita que lançara uma espécie de "maldição" contra si mesmo ao proferir aquelas palavras quando da pintura do quadro.
"O que os vermes são para um cadáver seus pecados seriam para a imagem pintada nessa tela."
Não sei o que pensar sobre isso. Ao mesmo tempo que enxergo que o retrato era a representação da alma do personagem, sei que não tenho explicação para certos acontecimentos envolvendo esse quadro. Deixo que os estudiosos encontrem as respostas devidas.kkkkkkkk...
- Impossível dizer que apreciei esta leitura. Com certeza é um livro que não tenho a menor intenção de voltar a ler um dia!kkkkkk Tudo o que quero é esquecê-lo. Na história, Dorian chega a dizer ao lorde Henry que ele o envenenou através de um livro. Bem... eu não penso em ser intoxicada por esta história.rs
Recomendo o livro? Gente, é um clássico que realmente é digno de ser considerado como tal. O autor foi brilhante ao escrever algo assim e acredito que é válido lê-lo. Só que não é um livro saudável. Recomendo mais para quem estuda Psicologia ou aprecia livros voltados para temas psicológicos.