Não sabia bem sobre o que falar hoje. Na verdade, eu sabia que falaria de algum conto, só não conseguia escolher.rs
Depois de muito pensar, percebi que a resposta era muito simples, uma vez que não tirava da minha cabeça um filme que tinha assistido ontem: O Caçador e a Rainha do Gelo. Vários anos atrás, eu assisti Branca de Neve e o Caçador e confesso que apesar de ter gostado do filme não era minha adaptação preferida do conto da Branca de Neve (aliás, este conto está longe de ser um dos meus queridos). Não tinha realmente nenhuma intenção de assistir o seu prequel/sua continuação. Todavia...
Lá estava eu, não muito animada, desejando assistir alguma coisa que prendesse minha atenção. E quando vi que passaria O Caçador e a Rainha do Gelo, resolvi que a adaptação de um conto de fadas era a melhor opção para o meu dia.rs Mas realmente não esperava que o filme fosse mexer tanto comigo, me envolver da maneira que envolveu, me emocionar, me fazer chorar. Não passava pela minha cabeça que algo assim aconteceria. Mas me envolvi completamente, gente! E como! É uma das melhores adaptações de contos de fadas que já assisti. Embora não conhecesse a história original.
Até já tinha ouvido falar que existia um conto sobre alguma rainha da neve e que foi a partir dele que a Disney fez Frozen. Não sei se é verdade ou não, mas já tinha ouvido uma história assim. Não sei se é verdade porque, na minha opinião, o conto que eu li não tem absolutamente nada a ver com Frozen.
Pois bem. Como eu estava dizendo, depois de assistir o filme, fiquei muito interessada no conto que o originou. Eu queria conhecer mais profundamente a Rainha do Gelo. E foi assim que acabei indo para os contos de Hans Christian Andersen, autor do século XIX, conhecido por suas histórias infantis, seus maravilhosos contos de fadas. A Pequena Sereia, O Patinho Feio, O Soldadinho de Chumbo são algumas de suas histórias. E as únicas que eu conhecia até então, creio.
Eu tinha na cabeça que o conto A Rainha da Neve se concentraria justamente na tal rainha, motivo pelo qual eu queria lê-lo. Porém, nada foi como eu imaginava.
O conto é dividido em sete histórias, que na verdade se tratam de sete capítulos, cada qual recebendo um título que nos chama a atenção. Ele inicia-se nos falando de um duende perverso como o próprio diabo, que se divertia fazendo maldades, trazendo sofrimento para a vida das pessoas. Um dia, ele teve a diabólica ideia de criar um espelho mágico, muito poderoso, capaz de distorcer tudo o que fosse bom.
"Um dia, estava ele de bom humor, porque tinha acabado de construir um espelho que possuía uma propriedade: a beleza e a bondade que nele se reflectissem reduziam-se a quase nada. Tudo o que era mau ou desagradável, pelo contrário, aumentava, tornando-se ainda pior."
Tão fascinado ele estava por sua criação, pelo grande dano que aquele espelho causava, que, num descuido, o espelho caiu e espatifou-se, espalhando milhões, até mesmo bilhões de pedacinhos por todo o mundo. Em vez de diminuir o seu poder, o espelho tornou-se ainda mais nocivo por ter se partido e assim alcançou mais pessoas. Quando um pedacinho do espelho atingia seus olhos, elas viam o mundo e as pessoas de maneira ruim, não conseguindo ver ou possuir mais qualquer bondade. E se o fragmento atingisse o coração, ele se tornava tão frio quanto gelo.
"E foi assim, despedaçado, que causou mais danos do que antes. Alguns pedaços que não eram maiores que grãos de areia voaram pela vastidão do mundo e as pessoas apanharam com essa funesta poeira nos olhos. Essas pessoas viam tudo errado, e só tinham olhos para o que estava mal, pois cada pequeno grão de espelho mantinha as mesmas forças como se de todo o espelho se tratasse."
Existiam duas crianças que eram unidas como irmãs. O menino se chamava Kay e a menina era Gerda. Eles eram inseparáveis e nada os entristecia, apesar de serem muito pobres. Tinham paixão por rosas e juntos inventavam brincadeiras, cantavam e rezavam. Onde quer que um estivesse o outro também estaria.
Numa determinada ocasião, a avó de um deles, que era como se fosse dos dois, lhes falou de uma Rainha da Neve que controlava todos os flocos de neve, como uma Abelha Rainha. Impressionado, Kay disse que faria o gelo dessa rainha derreter se um dia a encontrasse. E, como se ele a tivesse invocado, ela apareceu uma noite em sua janela. Foi um momento fugaz e Kay não poderia imaginar o que lhe aconteceria...
"Apesar de ser de gelo, mesmo assim, estava viva. Os seus olhos brilhavam como duas estrelas claras, mas não tinham calma nem descanso."
Pouco tempo depois, enquanto estava com Gerda, o menino sentiu algo penetrar em seu coração, bem como atingir seu olho. Gerda ficou nervosa e mal pôde reconhecer o seu amigo após tão estranho acontecimento. Era como se ele não fosse mais o mesmo. A tratava mal, destruía as rosas, zombava das pessoas e a queria longe. O que se passava? Mas o pior veio quando Kay simplesmente desapareceu e todos acreditaram que ele estava morto.
Houve quem dissesse que o viu sendo levado por alguém, mas a maioria acreditava que ele tinha se afogado e morrido. Somente a Rainha da Neve sabia a verdade...
Gerda, desesperada de saudades de Kay, decide sair de casa e ir procurá-lo. E é a partir daí que a história se desenvolve. Será que ela conseguirá encontrá-lo? E ainda seria possível salvá-lo?
- Eu tinha uma noção bem diferente do conto.rsrs Na verdade, a Rainha da Neve parece mera coadjuvante neste conto. Ela não é a parte mais importante e muito menos tem qualquer papel de destaque nele. Só dá realmente título ao conto e mais nada.kkkkkkkk... Isso me decepcionou, confesso. Porque o filme me fez desejar conhecer mais profundamente a história dela e não dos demais personagens. Ainda assim, o conto é muito interessante, mostrando o valor da amizade, do amor e da bondade. Gerda e Kay são personagens cativantes e vários outros que eles vão encontrando em seu caminho também. Como exemplo temos a pequena salteadora que possui uma personalidade complexa, difícil de entender mesmo.kkkkkk Ela não é de todo má, mas também não é boa. Achei uma das personagens mais interessantes do conto.
"Tudo era vasto e vazio no grande e frio palácio da Rainha das Neves."
- Eu fiquei triste por quase não ver a rainha no conto. Não conheci nada de sua história, de seus motivos, seus sentimentos. Ela apenas leva o Kay, mas depois meio que a esquecem na história. Ela nem está presente nos acontecimentos finais!kkkkkkk... O autor simplesmente a tirou, com a desculpa de que ela foi fazer uma viagem! Como assim???!!! Ela deveria ter um papel importante, pelo amor de Deus!
O filme foi muito mais feliz ao explorar melhor a Rainha do Gelo. No filme sim ela possui um passado. Era uma jovem boa, irmã da Rainha Má da Branca de Neve, que se apaixonou perdidamente por um jovem já comprometido e se deixou envolver, vindo a engravidar dele. Enquanto sua irmã dizia que ele não largaria a noiva por ela e que o melhor seria ela se conformar, Freya (este é o nome da Rainha do Gelo) seguia tendo esperanças e assim o tempo se passou ela deu à luz a uma linda menina.
Pouco tempo após o nascimento da criança, recebeu uma carta de seu amado, pedindo para ela ir ao seu encontro, pois se casariam em segredo nos jardins. Todavia enquanto o espera nos jardins, vê que está saindo fumaça do quarto em que sua filha dormia. Desesperada, corre de volta, mas chega tarde demais. O homem que ela amava tinha matado o seu bebê, atacando fogo no berço. No momento que percebe a verdade, Freya grita em agonia e tudo se transforma em gelo. Até então ela não possuía poderes. Ou, pelo menos, eles não tinham se desenvolvido. Ela mata o homem que um dia amou e vai embora do palácio de sua irmã, decidida a construir seu próprio reino, num lugar em que seria proibido amar. Porque o amor era a pior das ilusões e o que motivava as mais perversas traições. Tais acontecimentos surgem antes da história que vemos em Branca de Neve e o Caçador, por isso que o filme é também um prequel.
Em sua dor, ela sequestra muitas crianças, decidida a torná-las soldados, formando um exército invencível. As separa cruelmente de suas famílias e as ensina que a única regra em seu reino é que é proibido amar. Qualquer um que se atrevesse a ter tais sentimentos, pagaria muito caro por isso.
Ela parece muito má, não é mesmo? Todavia, foi a personagem que mais me impressionou. Porque ela não era realmente tão cruel assim. A dor a destruiu, a tornou o que ela era e no fim, de certa forma, ela tenta consertar o mal que causou. Era uma pessoa que perdeu tudo e que teve que ver a própria filha, um bebezinho ainda, morta. E não só isso. A menina foi morta de um jeito bárbaro e Freya não podia sequer ver fogo em sua frente que ficava alterada. No gelo, ela encontrou uma espécie de conforto. Porque se seu coração não sentisse, ela conseguiria suportar. :( Ela pode ter feito coisas terríveis, mas é a minha personagem preferida do filme. Claro que isso não significa que eu não ame com todo o meu coração o casal apaixonado que a desafiou e infringiu suas regras. :D