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VAIDADE
"Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!..."
- Sei que em algum momento devo ter comentado com vocês o quanto admiro e amo esta autora. O quanto ela é importante para mim, sobretudo em momentos em que estou triste e quero ler algo que me faça sentir que alguém mais me compreende.rs
Se não me engano, a primeira vez que ouvi falar da Florbela, foi através da minha amiga Carla. E apenas aquele primeiro contato já bastou para que eu desejasse muito ter um livro da Florbela em minhas mãos. Não queria ler seus sonetos tão incríveis apenas na internet. Eu os queria comigo. Para que eu pudesse abrir o livro, folhear as páginas, cheirá-las, sentir que aqueles versos estavam mais perto de mim. Que estavam em mim, sabe? Porém, demorou muito para que realizasse meu sonho...
"E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!"
[Trecho de: Lágrimas Ocultas]
- Três anos atrás, no dia do meu aniversário, peguei o ônibus e saltei perto da biblioteca mais próxima da minha cidade. Ela está em péssimas condições, não possui muitos livros interessantes, mesmo assim eu quis ir lá. Tinha uma tênue esperança de encontrar algo da Florbela. E encontrei. Um livro de sonetos antigo. Fiquei tão feliz com isso!rsrs Em apenas um dia li todos os sonetos que existiam nele. E uma tristeza grande me invadiu quando tive que voltar àquela biblioteca para devolver o livro. Eu queria tanto tê-lo comigo! Mas, de qualquer forma, aquela não era a versão que eu queria. Desejava algo que estivesse à altura da autora.
"No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste."
[Trecho de: A Um Livro]
- Então... Uns dias atrás, fui até uma livraria. Eu queria me dar um presente de aniversário antecipado. Algo que fosse muito especial. Perguntei ao atendente se ele tinha algum livro "lindo" da Florbela Espanca. Ele procurou no computador, mas todos os que tinha não eram o que eu desejava. Perguntei: "Tem certeza que só tem esses?" E ele disse que sim. E eu já estava saindo da livraria, muito decepcionada... quando comecei a olhar para uma prateleira na minha frente. Nela estavam livros da Martin Claret em edições de luxo e aí... meu coração quase parou quando eu vi. Era a edição dos meus sonhos, gente! Era perfeita.
- A capa nesta foto não vai conseguir mostrar pra vocês a beleza desta edição. Somente quando você a tem nas mãos consegue entender. Possui capa dura e deliciosa ao toque, as folhas iniciais são azuis (minha cor preferida), com detalhes fofos e preciosos. Trata-se na verdade de uma Antologia Poética, reunindo os principais livros da Florbela, como por exemplo: "Livro de Mágoas", "Charneca em Flor" e "Trocando Olhares", só para citar alguns. É claro que fiquei perdidamente apaixonada por este livro! E furiosa com o atendente, pois se meus olhos não tivessem "batido" no livro, eu simplesmente teria saído da livraria sem ele, triste por mais uma vez não ter encontrado a edição perfeita que sonhava.
- É claro que trouxe o livro para casa e desde então não há um só dia em que não o "namore", folheie suas páginas, leia e releia sonetos queridos. Ainda não li todos. Quero passar um longo tempo com eles. Lendo bem aos poucos, relendo bastante aqueles que mais me apaixonam. Sem qualquer pressa.
"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida!
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida"
[Trecho de: Fanatismo]
Quem é Florbela Espanca?
- Não me perderei numa longa biografia da autora. O que sim vou dizer é que ela foi uma alma incompreendida, intensa, que desejava algo que este mundo muito provavelmente jamais seria capaz de lhe dar. Nasceu em 08 de dezembro de 1894, numa época ainda bem difícil para as mulheres (mesmo nos dias de hoje as coisas ainda não são fáceis). Era filha ilegítima de um pai que somente a reconheceu legalmente como filha cerca de vinte anos depois da morte dela. O que me deixa com o coração partido. Não que as pessoas não soubessem que ele era seu pai. Na verdade, ele a recebeu em sua casa, a criou ali, juntamente com o irmão dela que também era seu filho. Pelo pouco que percebi do que li, a amava (da maneira dele, claro) e em muitos momentos a ajudou. A esposa dele era madrinha da Florbela, uma vez que ela foi concebida porque a mulher dele era estéril e lhe deu permissão para ter filhos com uma outra mulher. Enfim...
Florbela era muitíssimo inteligente. Interessava-se por livros e queria estudar. E lutou por isso. Começou a escrever seus textos, poemas, contos, ainda bem nova. E ainda bem jovem também enfrentou sofrimentos terríveis que acabaram por contribuir para a sua morte prematura, aos 36 anos de idade. :( Acredito que as maiores tristezas de sua vida foram o aborto involuntário que ela sofreu e a perda do irmão, num trágico acidente. E foi justamente após a morte do irmão que a minha autora querida tentou suicídio pela primeira vez.
E sim, ela acaba por conseguir partir na terceira tentativa. Sei que existem pessoas que consideram "covardes" aqueles que se suicidam. Que eles foram fracos e optaram pelo caminho mais fácil. Sério, gente? É tão fácil julgar os outros! Sobretudo quando não estamos no lugar deles, sentindo o que eles estão sentindo, sofrendo o que estão sofrendo. É impossível para mim dizer que suicidar-se é o caminho mais fácil. Na verdade, o que penso é que é bem difícil e doloroso para um ser humano tomar tal decisão. É preciso que a pessoa esteja sofrendo demais, um sofrimento que vá muito além do suportável. Me dói muitíssimo que a Florbela tenha estado em tal situação... que ela tenha sofrido tanto e não tenha encontrado outra saída. Queria que alguém a tivesse confortado, estendido a mão e a levantado do poço no qual ela se encontrava. Que alguém tivesse dito: "Estou aqui com você e não irei te soltar." O mundo inteiro perdeu uma joia preciosa quando essa escritora brilhante fechou os olhos pela última vez.
Somente dois dos seus livros foram publicados enquanto ela era viva: Livro de Mágoas e Livro de Sóror Saudade. Os outros foram publicados apenas depois de sua morte.
"Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: 'Era uma vez...'"
[Trecho de: Conto de Fadas]
- Eu queria falar mais... Colocar em palavras o carinho enorme que sinto por esta poetisa que tinha o dom de encantar, emocionar e transbordar sentimentos em suas palavras. Muitas foram as vezes em que li seus sonetos e senti como se ela tivesse escrito exatamente o que eu estava sentindo, aquilo que eu própria não seria capaz de escrever. Ela era pura vida, escrevia com a alma... colocava a si mesma no papel. Acredito que nunca amarei nenhum poeta como à ela. Penso que seria impossível.
"Batida por furiosos vendavais!
- Eu fui na vida a irmã de um só Irmão,
E já não sou a irmã de ninguém mais!"
[Trecho de: In Memoriam]
- Às vezes eu fico pensando... No quanto as pessoas simplesmente desperdiçam a oportunidade única que têm de viver. Se concentram em brigas, desentendimentos idiotas, se afastam de quem amam, passam a preocupar-se apenas com elas mesmas... jogando o tempo fora. Jogando todas as chances no lixo. Têm vezes que observo as pessoas e vejo com tristeza quantos valores se perderam. E o principal: quanto amor se perdeu. Vejo uma mãe que fez tudo por seus filhos, que sacrificou a si mesma e hoje depende do auxílio de estranhos, pois seus próprios filhos lhe viraram as costas. Vejo irmãos que não se suportam, amigos que se traem... e tudo que posso fazer é lamentar por essas pessoas que estão pegando a própria vida e jogando fora.
A Florbela, pelo que posso observar de seus sonetos e do que li sobre sua vida, era alguém que amava muito a vida, a natureza, as pessoas e, acima de tudo, a sua família. Principalmente o irmão. E ela não suportou perdê-lo. Foi o golpe mais doloroso que sofreu. Algo que ela não conseguiu superar. E somente quem perde alguém querido consegue entender tal dor.
"Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!..."
[Trecho de: O Meu Impossível]
- Bem.. É isso. Espero que um dia vocês deem uma chance aos sonetos da Florbela. Que leiam cada verso com o coração. Ela foi uma artista única. Talentosa como poucos. E inesquecível.
"Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,
E, de mãos postas, em sentida prece,
Canto teus olhos de oiro e de veludo.
Ah! esse verso imenso de ansiedade,
Esse verso de amor que te fizesse
Ser eterno por toda a Eternidade!..."
[Trecho de: Escrava]
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