(Título Original: Black Heart Blue
Tradutor: Thiago Mlaker
Editora: Novo Conceito
Edição de: 2013)
Duas irmãs gêmeas. Uma linda, a outra desfigurada.
Divididas por um terrível segredo...
Hephzibah e Rebecca são irmãs gêmeas, mas muito diferentes. Enquanto Hephzi é linda e voluntariosa, Reb sofre da Síndrome de Treacher Collins — que deformou enormemente seu rosto — e é mais cuidadosa. Apesar de suas diferenças, as garotas são como quaisquer irmãs: implicam uma com a outra, mas se amam e se defendem. E também guardam um segredo terrível como só irmãos conseguem guardar. Um segredo que esconde o que acontece quando seu pai, um religioso fanático, tranca a porta de casa. No entanto, quando a ousada Hephzibah começa a vislumbrar a possibilidade de escapar da opressão em que vive, os segredos que rondam sua família cobram-lhe um preço alto: seu trágico fim. E só Rebecca, que esteve o tempo todo ao lado da irmã, sabe a verdadeira causa de sua morte...
Hephzi sonhara escapar, mas falhara. Será que Rebecca poderia encontrar, finalmente, a liberdade?
Palavras de uma leitora...
"Eu vivi à sombra dela por 16 anos e gostei do frio e da escuridão; era um lugar seguro para esconder-me. Agora eu estremecia no ar pesado de janeiro. Era o primeiro dia do ano-novo, e minha irmã estava morta havia uma semana."
- Há anos eu desejava ler este livro, mas sempre que tentava iniciar a leitura fugia para outra história, temendo o que se esconderia nas páginas deste livro. Sabia que era uma história forte, que me chocaria e provocaria pesadelos, mas não conhecia detalhes. Apenas o que a sinopse revelava. Que já era mais do que suficiente para me deixar em pânico.
"Gravei o dia de hoje em minha memória como mais um dia negro, e está lá, uma dura história inscrita em meu coração. As histórias que tenho escondidas dentro de mim; se você pudesse abrir-me, leria a verdade. Olhe para dentro, retire a pele, a carne e os ossos e encontrará uma biblioteca de sofrimentos. Talvez você me peça para explicar. Eu sou, antes de tudo, a curadora desse passado. Mas algumas coisas são terríveis demais para serem contadas, e essas palavras estão enterradas profundamente."
- Li a história inteira em poucas horas. Ontem. Simplesmente não conseguia parar. Lia uma página atrás da outra, ansiando pelo final... esperando por uma justiça que jamais chegou. Não. Não é spoiler. É a minha opinião apenas. Para mim, a justiça passou bem longe da vida dessas duas irmãs.
Quando leio certos livros e me deparo com realidades tão aterrorizantes, chego a pensar que o inferno realmente é aqui na Terra e que os condenados a ele são justamente aqueles que não merecem. Hephzi e Rebecca certamente não mereciam... E isso despedaçou meu coração. Estou profundamente abalada pela história delas. Vai ser difícil superar. E impossível esquecer...
- Não é necessário perguntar se chorei. Fiz mais que isso. Tive uma crise, soluçando e perguntando, a ninguém em especial, por quê. Por que tudo teve que ser assim? Eu não era capaz de parar de chorar e amaldiçoar os monstros da história e todos os que estão por aí, andando entre nós como se fossem pessoas normais quando na realidade não passam de demônios disfarçados. Monstros, vermes, psicopatas que sentem prazer em destruir a vida dos outros. Quando isso vai parar? Quando toda essa maldade deixará de existir? Eu chorava tanto e de uma maneira tão desesperada que minha mãe veio perguntar o que tinha acontecido. Ela ficou totalmente perdida, sem entender o que havia me deixado naquele estado. Então eu contei... e ela ficou em silêncio, sem saber o que me dizer. O que haveria a ser dito? Não há palavras para o que encontramos neste livro. Não há.
- Talvez esteja na hora de começar a falar da história em si... E acreditem: esta sem dúvidas está sendo uma das mais difíceis resenhas que já fiz na vida. Está sendo doloroso escrever. Cada palavra me traz de volta cenas do livro, imagens que quero esquecer, apagar da minha memória.
"Sinto o medo de Rebecca como um mal em volta do meu estômago e sei que o tempo está se esgotando."
- Duas irmãs. Gêmeas, mas completamente diferentes. Unidas e separadas por uma infância de dor e desespero, segredos e mentiras... e uma esperança que insistia em permanecer... Fazendo-as acreditar que um dia tudo aquilo chegaria ao fim e, então, elas poderiam começar a viver. Abraçar o mundo que só podiam ver à distância. E o fim realmente chegou para Hephzi... Dentro de um caixão. Uma morte trágica que poderia ser evitada se alguém tivesse ouvido o seu grito de socorro... se alguém tivesse olhado mais atentamente para aqueles olhos que imploravam por ajuda. Mas ninguém ouviu. Ninguém olhou... E Rebecca sabia que não demoraria a ser sua vez. Precisava escapar... Precisava fazer aquilo não só por si mesma, mas também por Hephzi. Ela sabia que lhe devia isso...
Mas haveria tempo? Seria possível fugir de uma realidade que as duas nunca se atreveram a contar? Existiria um lugar no qual fosse possível se esconder? Tudo lhe dizia que não, que não valia a pena sequer tentar, mas sua irmã, dia após dia, onde quer que estivesse, lhe dava forças... e lhe incentivava a salvar as duas.
"O Pai me odiava porque a coisa de que ele gostava de cuidar, como um abutre ganancioso, partira, e eles agora precisavam tomar cuidado, ser mais vigilantes, caso outras perguntas fossem feitas."
- É tudo o que posso contar, gente. Nada muito além do que a sinopse nos diz. Conhecemos a história através dos olhos das duas irmãs. Sabemos o antes, contado por Hephzi e o depois, contado por Rebecca. Já iniciamos a leitura tendo uma enorme ideia do que se passou. Não sabemos como aconteceu nem em que momento ocorreu, mas a história já nos grita desde o princípio quem matou Hephzi. Quem colocou um ponto final em todos os sonhos que ela tinha, em toda a esperança que ela manteve viva dentro dela, mesmo quando chorava e via os anos se passando recheados de momentos de intensa agonia. Ela acreditou. Muito. Não permitiu que a realidade a impedisse de tentar, de lutar pela liberdade a que tinha direito. Ela queria amar. Queria ter filhos. Queria viver. E lutou muito por isso... Vê-la sendo tão corajosa e forte, quando ela própria não conseguia enxergar a coragem que possuía, acabou comigo. Porque eu sabia que ela não iria conseguir. Eu sabia que ela seria assassinada. Afinal de contas, a história começa justamente uma semana após a morte dela. E eu não pude aceitar. Não era justo. Eu não conseguia acreditar que ela estava morta. Que tudo tinha sido em vão. Senti tanta raiva... uma vontade enorme de destruir aqueles animais com minhas próprias mãos. Nem a morte mais dolorosa seria suficiente para eles. Eles mereciam sofrer os tormentos do inferno, lenta e muito, muito dolorosamente antes de morrer.
"Eu encolhia minha mente enquanto pensava em todos os livros que nunca chegaria a ler, as histórias que ele estava escondendo de mim. Não era justo. Por que eu tinha de ficar em sua prisão, por que tudo que sempre amei tinha de ser tirado de mim?"
A história vai alternando entre passado e presente, entre Rebecca e Hephzi. Inicia-se pelas palavras de Rebecca, enquanto ela nos mostra o depois, falando também de momentos passados... E então, poucas páginas mais adiante, a autora pula para o antes, nos mostrando uma Hephzi que sabia que estava arriscando tudo, mas que ainda assim tinha fé... sonhando que conseguiria salvá-las. E a autora constrói a história assim, nos fazendo conhecê-las aos poucos e nos apegar às duas. E quando a própria Hephzi começa a nos mostrar os acontecimentos anteriores a sua morte... o que aconteceu poucas horas antes... não dá para suportar. Estou aqui... em lágrimas novamente. Mas, me diga, como não chorar? Como faço para aceitar algo que é inaceitável?
"Eu não acredito no Deus dele. Ele nunca veio ajudar a mim ou a minha irmã, e essa é a prova de que preciso. Assim como o amor. Bem, se Deus era amor, ele morrera com minha avó."
- Após a morte da irmã, Rebecca tenta seguir em frente. Sabendo que também não durará muito. Sabendo que em algum momento se livrariam dela também. É então que Hephzi passa a acompanhá-la... falando com ela, tentando fazer Rebecca criar coragem para fugir... para fazer o que ela morrera tentando. Ver as duas conversando... não é fácil de suportar toda a emoção e tristeza desses momentos. Uns podem pensar que Rebecca criou a fantasia de que a irmã estava com ela, orientando-a, aconselhando-a... que ela quis acreditar que não estava sozinha. Que Hephzi ainda estava com ela. Mas eu acredito que ela não conseguiu descansar. Porque sabia que a irmã precisava dela. Porque sabia que as coisas não poderiam terminar igual para as duas. Ela não consegue partir e deixar a irmã para trás. Eu acredito muito nisso. Que Hephzi não pôde partir... a história dela ainda não tinha terminado. Ela precisava não só fazer Rebecca sobreviver, mas necessitava também que tudo fosse revelado... que todos aqueles segredos batessem na cara de todos os que as viam e fingiam não saber o que se passava naquela casa. Era preciso gritar todos aqueles anos de sofrimento. Era preciso que alguém ouvisse sua voz. E que tudo aquilo chegasse ao fim.
"Ainda não me atrevi a revelar seu segredo, mas, talvez um dia, se minha alma encontrar um lugar para respirar, eu o faça."
- Rebecca é uma personagem como poucas. Uma menina de apenas 16 anos, profundamente marcada por uma infância de sofrimento, que enfrentou a perda das duas únicas pessoas que se importavam com ela (a avó e a irmã), que já não tinha mais fé e ainda assim não desistia. Ainda assim possuía uma força interior que a fazia manter-se de pé. Foram pouquíssimas as vezes que encontrei mocinhas como ela, com tanta coragem e tanta força diante das mais insuportáveis situações. Rebecca jamais desistiu, mesmo quando seu corpo e sua alma queriam desistir. Ela suportou coisas que eu jamais suportaria. Ela não permitiu que eles destruíssem o que havia de bom dentro dela. Não permitiu que matassem a sua capacidade de amar e nem as lembranças que tinha da irmã. Tudo o que ela faz ao longo da história... Eu nunca seria capaz de fazer. É uma mocinha que possui toda a minha admiração e o meu carinho. Sempre me lembrarei dela... das lições que ela me ensinou. Ela marcou a minha vida. Assim como a Hephzi que morreu lutando para ser feliz, que correu atrás do amor até o último dia da sua vida. Sua história pode ter terminado de forma terrível, mas ela ao menos soube que havia tentado. E não se arrependia de nada. Ela tentou viver. E isso é muito mais do que muitos fazem ao longo de toda uma vida.
"Eu queria ser uma versão melhor de mim, uma com todas as feridas cicatrizadas. Mas isso não acontece na vida real. Na vida real não há ressurreição, ainda que você a deseje todas as noites."
- Como disse antes, na minha opinião, a justiça fugiu desta história. Não direi o que acontece no final. Por mais que possam pensar que eu contei muito, na verdade não contei nada. Quando terminei a leitura, além de estar em prantos, sentia um gosto amargo na boca. Uma sensação enorme de injustiça. E não consigo aceitar. Jamais vou ser capaz de aceitar.
Dei 5 estrelas para a história, com passagem direta para os favoritos, mas não me atrevo a recomendá-la. É uma história marcante, emocionante, extremamente dolorosa. E injusta. Muito injusta. Por isso, o que recomendo é que, caso decidam dar uma chance ao livro, o façam num momento apropriado. Quando se sentirem preparados para isso. Porque é uma história que abala nossas estruturas, que mexe demais com as nossas emoções.
"Hephzibah estava em outro lugar, mas também em mim."
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